Em Conversa com: Germano Almeida (Escritor) [parte 1] | Dai Varela

24 de fevereiro de 2011

Em Conversa com: Germano Almeida (Escritor) [parte 1]


Acompanhe a entrevista bem-humorada de daivarela ao escritor caboverdeano Germano Almeida concedida em exclusivo para o blog. Considerado um dos maiores escritores (ou o escritor mais grande) de Cabo Verde, Germano Almeida é o campeão crioulo de vendas de livros e um dos autores mais traduzidos na nossa história literária. O texto foi dividido em dois artigos por isso continua a visitar o blog para leres toda a entrevista.  

Isso de escrever não parece ser muito difícil… 

Germano Almeida
(risos…) O Saramago é que já brigava muito com isso, porque dizia ‘as pessoas estão convencidas de que escrever é fácil. Escrever é muito difícil’. Eu não discuto se é fácil ou difícil. Por exemplo, para mim escrever é fácil. Isso porquê? Porque só escrevo quando quero e divirto-me imenso a escrever, ou melhor, eu escrevo para me divertir. Não escrevo como castigo ou trabalho. Aliás, a minha profissão é advogado. Posso fazer alguns trabalhos de advocacia contra a minha vontade porque tenho que ganhar dinheiro. Agora na escrita nunca.


Quando publicou o seu primeiro livro foi um momento de grande orgulho, não? 

Não vou dizer que me envergonho disso. Eu decido fazer uma coisa e quero ver o resultado. O que me preocupa de facto - se decido publicar um livro - é definir os trâmites para que se tiver que estar no mercado dentro de um mês, que esteja. Esta é a parte que mais me entusiasma. Agora, depois de pronto… 


Mesmo o primeiro? Pensei que tivesse andado com o livro na mão a mostrar às pessoas. 

Pelo contrário. Escondi-me o melhor possível. Acho que a gente não têm essas coisas… eu pelo menos não tenho. Porque o bom livro – ou o bom qualquer coisa – é aquilo que ainda não se fez ou que se está a pensar fazer. Os livros que já fiz e publiquei já estão. Pertencem ao passado e é como se fossem arquivo morto. Aliás, quando me perguntam qual o livro que eu gosto mais, respondo ‘aquele que estou escrevendo ou que ainda não escrevi’ e as pessoas acham que é bazofaria. Não é não.


Costuma dar muitos autógrafos? 

Alguns. Quando vendo livros dou bastantes autógrafos. De vez em quando as pessoas aparecem aqui e pedem-me um autógrafo. 


Gosta desta parte? 

Gosto. A parte desagradável de dar autógrafos é no lançamento de livros porque normalmente esquecemos o nome de pessoas amigas. E são daquelas pessoas que não podemos perguntar ‘como é que te chamas?’. Se for uma pessoa que não conheço é só perguntar o nome, agora com pessoas amigas é muito complicado. 


Já aconteceu de alguém chatear-se por não se lembrar do seu nome? 

Chatear não sei, mas eu fico um bocado envergonhado. Tenho que perguntar ‘espera lá, tou-me a lembrar de ti, que nome é que queres que coloco aqui?’ e a pessoa responde ‘ah, meu nome!’ e então respondo ‘pois é… o teu nome…’ É desagradável, pois há pessoas que eu não devia esquecer os seus nomes.


Quais as vantagem de ser um escritor famoso? 

Bom… eu não posso responder isso como um escritor famoso pois não me considero como tal. Mas vantagem é capaz de haver. Por exemplo, o Estado de Cabo Verde deu-me um passaporte diplomático que me dá muito jeito. Aliás, dá muito jeito mesmo. 


E quais as desvantagens em ser muito conhecido? 

Há coisas que eu gostaria de fazer aqui ou mesmo em Portugal e que não posso fazer. Por exemplo, quando entro num restaurante ou noutro local, as pessoas cumprimentam ‘ah, o escritor Germano Almeida’ e digo ‘ chatice, sou mais conhecido do que gostaria’. Às vezes quero pregar uma descompostura a alguém e não posso fazê-lo porque as pessoas dirão logo ‘ah é o Germano Almeida na rua a descompor o outro…’ é nesse sentido que digo que ser muito conhecido não é uma vantagem.


Quando faz um lançamento de livro exige um bom buffet? 

Não, não. A editora não faz buffets porque eu sou contra os buffets. A princípio fizemos, mas depois deixamos de fazer. Porque veja, eu sou o homenageado, sou o autor do livro e fico a dar autógrafos e depois não tenho direito a nada. Quando chego lá aquilo tudo já acabou. 


Então cortou o buffet porque não conseguia participar nele? 
(risos…) não cortei, desencorajei. Disse-lhes que não valia a pena fazer o buffet e coisa e tal… Mas mais por causa disto. 



  1. Meu jovem, bom dia, já li a entrevista, está interessante. Um abraço.

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