[Desafio Criativo Nº2] - E foi tudo tão rápido! | Dai Varela

5 de abril de 2012

[Desafio Criativo Nº2] - E foi tudo tão rápido!

Vi-o sempre entregando seu tempo ao povo e explorando cada gota da sua actividade mental na busca do ideal social, Zeca ou melhor José Moreira, foi sempre um apaixonado por revoluções e revolucionários, um respeitável estudioso do Marxismo e um firme opositor do Nevismo, do Fonsequismo e muitos outros ismos por ai fora. 

Mas nem tudo era política, Zeca era dono de um amor platónico por Flávinha, filha de Santana, militante de peso do PAICV e um fascista dos tempos modernos, responsável pelo partido em São Vicente e um dos responsáveis pelo monopólio “Badiu” que suga dinheiro por via publica das ilhas do norte e injecta na administração pública de folgada fiscalização da capital, para o agrado dos Pesos Pesados, e da oposição que se limita a associar-se com os que mandam e desmandam no tão dito pais democrático. 

Zeca que sofria com perseguição politica dos novos tempos, que poucos entendem, ou seja, na rua era bandido, na escola era drogado, e não conseguia bolsas de estudo, estagio, trabalho ou coisa melhor. Arquitectou com genialidade o movimento dos indignados de Soncent com sede e acção no Mindelo, que no mês de Julho de 2012 vinha a ocupar as manchetes dos jornais neoliberais numa dura perseguição aos “fascistas” e entre eles o pai da sua amada. Também ocupara a Praça Nova, a Rua de Lisboa e a Pracinha de Igreja por alguns dias, com Zeca firme no seu apaixonante discurso Cabralista, Zapatista, e outros que ele tanto admirava e mencionava, que conquistou não só a população “farta de estod sem nenhum tustom” como também Flávinha. Moça de boa educação inteligente, escurinha, cabelos pretos ondulados com a beleza de uma crioula comum, que não só estava apaixonada pelos dotes de Zeca como também estava indignada com a traição dos políticos cabo-verdianos, onde seu pai estava incluído num barco cada vez mais afundado. 

Para Zeca, Santana era um inimigo a perdoar e a ter do seu lado por ser pai de Flávinha, e para Santana, Zeca era o alvo, o diabo vestido na pele de um crioulo, que lhe roubava a pouco e pouco a vida política e pior, a honra familiar. Foi fácil para Sr. Santana associar-se a revolução de Soncent e trazer as claras alguns podres de Praia, mas nunca conseguindo o protagonismo, o respeito e adoração que tanto desejava, que agora seu genro conquistou.
No dia 5 de Julho de 2012, rua de Lisboa cheia de populares, desde da antiga “Casa do Leão” que hoje é loja “Pam Pam China 2”, até ao monumento conhecido como “Poss”. 

Zeca discursava firmemente com raiva nos olhos que se direccionava aos olhos de esperança dos milhares de mindelenses que durante a semana imobilizou a persistente policia em vários motins, na Câmara Municipal, Palácio da Justiça, Ministério das Finanças, etc. Do seu lado direito estava Flávinha, do lado esquerdo Dirceu e Lúcia, e um dos que estavam no grupo atrás dele, além de eu, era Santana também com olhos de raiva, mas não por motivos em comum, e sim pela reviravolta que lhe foi imposto sobre seus ideais, e pela vergonha no seio da sua conservadora família. 

Zeca terminou o discurso dizendo “já chega de descentralização”, acenou levantado para cima o punho fechado, todos os mindelenses presentes, virou para a esquerda acenando com a cabeça os camaradas Dirceu e Lúcia, e logo beijou Flávinha, tudo sobre o olhar atento de Santana que temporizou os paços de Zeca para a descida do pequena palanque, e, com revolta arrogância e ódio desfere a famosa apunhalada pelas costas em plena Rua de Lisboa cheia de gente, escândalo! 

Flávinha só conseguiu amparar a queda do seu amado, que nos seus braços fechou lentamente os olhos para o desespero de todos, Santana teve uma fuga lenta e despercebida! Foi tudo tão rápido! 

 

OBS: este texto é da autoria de  Suruk Rodrigues  e faz parte do Concurso de Escrita Criativa


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