[Desafio Criativo Nº1] - Cabo Verde: um povo sempre escravo! | Dai Varela

28 de março de 2012

[Desafio Criativo Nº1] - Cabo Verde: um povo sempre escravo!

Cabo Verde. Era esse o meu próximo destino. Minha avó falava muito deste país. É… dizia que eram dez ilhas e uma gente com um coração grande. Queria conhecer a terra onde dos meus antepassados. Bem, já a tinha conhecido em vídeos e fotos de alguns familiares. Mas, muitos anos se passaram. E dizem por aí que muita coisa mudou. Queria ver como é que aquelas ilhas estão hoje, como é que aquele povo vive… 

Quando cheguei em Cabo Verde fiquei perplexo com tanta “ novidade”. “ Bem, espera aí! Algo está errado”, pensei em voz alta. Tive de certificar que eu estava em Cabo Verde. Nunca tinha estado no país, mas a minha avó foi jornalista e tinha escrito um livro que falava sobre o encanto e a combinação das dez ilhas. Li o livro mais de 10 vezes. A paisagem daquelas ilhas encantava-me. Adorava a história daquele povo. Ainda mais diziam que eu era em muito parecido com o cabo-verdiano. Forte, corajoso, lutador e bonito, diga-se de passagem. Mas aquilo que me contaram estava longe de ser aquela que meus olhos enxergavam. 

Para começar, as pessoas eram diferentes. Tinham uma mistura de chineses, italianos, espanhóis, franceses… Respirei fundo. Ao passar num grupo de pessoas apercebi-me de que eles falavam uma língua um tanto estranha. Parei! A minha avó dizia que a língua deste povo era crioula. Ela ensinou-me a língua crioula, o que me leva a afirmar que aquilo que as pessoas falavam não era o crioulo. Era uma língua estranha que mais parecia uma junção de todas as línguas do mundo. 

Confuso, fui falar com as pessoas. No meio de tanta confusão encontrei uma mulher (linda por sinal) que falava o português. “ Olá, também és visitante?” perguntou com um sorriso nos lábios. “ Sim, sou. Mas confesso que estou perdido. Tinha um mapa e uma descrição diferente desta. Sabes informar-me de alguma coisa?” deixei-me levar pela emoção. “ É, aqui agora é diferente. Há mais ou menos 30 anos houve uma revolução e os chineses agora são os chefes máximos” exclamou, um pouco triste. “ A sério? Tomaram como? Conta-me o que sabes desta história” sentei-me um tanto preocupado. 

Com muita paciência a Sara – a mulher - explicou que os chineses começaram a entrar nas ilhas muitos anos atrás. As suas lojas eram capitais na compra do dia-a-dia dos cabo-verdianos. Os chineses distribuíram-se em todas as ilhas do país, conheceram a cultura e aprenderam a língua. Aproveitando-se da passividade do povo cabo-verdiano começaram a abrir gabinetes de administração e outros, trazendo chineses para trabalhar e deixando os cabo-verdianos no desemprego. 

A nível da política o cenário nunca mudou em relação a época da minha avó. No governo só passa o MPD e/ ou PAICV. A única diferença é que agora é comandada pelos chineses. 

O crioulo não foi oficializado. A tentativa não passou da boca do povo. A problemática do dialeto a ser escolhido nunca deixou de existir e, quanto mais estrangeiros subiam nas camadas administrativas do país, mais essa ideia era enterrada. 

Foi um dia de conversa com a Sara para entender aquele processo de “mudança” que tinha acontecido naquele “paraíso” onde os meus familiares viveram. Um povo que se deixou enganar pela serenidade dos estrangeiros. Um país onde a paz desapareceu por causa da descoberta de bens preciosos. Que Cabo Verde é este? Como é que os cabo-verdianos foram tão “covardes” e não lutaram pelo próprio país? 

Fiquei indignado, triste e com muita raiva. Antes, escravos dos portugueses. Agora escravos do mundo inteiro. Já não se pode dizer que um dia houve paz nesta terra de Deus. Se meus avôs estivessem vivos morreriam de desgosto ao ver aquilo que esta terra transformou. 


OBS: este texto é da autoria de Ary Rodrigues e faz parte do Concurso de Escrita Criativa

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