Em Conversa com: José Cabral (Escritor) | Dai Varela

22 de janeiro de 2011

Em Conversa com: José Cabral (Escritor)



O escritor de São Nicolau, José Cabral, autor do livro “SODADE DE NHÂ TERRA SANINKLAU”, em conversa comigo contou-me da possibilidade de ser feita a tradução para o inglês, do seu livro, agora que ele prepara-se para a apresentação da obra nos Estados Unidos. Nesta entrevista José Cabral dá-se a conhecer, suas convicções e sua obra.

“SODADE DE NHÂ TERRA SANINKLAU” já vai na sua 2ª edição. Como está sendo a aceitação/reacção do público ao livro?

José Cabral
Para lá daquilo que imaginei. Já estive em Abrantes, Portugal, Roma (Itália), nos 130 anos da cidade do Mindelo, no Sal, e no Município de Tarrafal de São Nicolau; Sempre com salas compostas. Traduzo isso como reconhecimento. Até sessões de autógrafos tem havido. Fico constrangido, de ter de autografar livro para pessoas de elevada estatura intelectual, escritores credenciados, diplomatas, professores…

Algumas reacções me assustaram pela positiva. É que escrevi sem pretensões nenhumas, sem intenção sequer de publicar. Confesso que pessoas têm encontrado coisas que eu sequer imaginava ter espoletado.


As histórias são memórias suas ou uma colectânea de "memórias colectivas"?

Memórias minhas umas, e colectivas (outras), porém ficcionadas. Nada real, por mais que pareçam, ser. Os personagens, a maioria possui nomes de pessoas reais. Apenas para lhes homenagear.


Quanto tempo durou a "transpiração" até terminar o livro?

Comecei dez anos antes da primeira publicação, como disse, sem pretensão de publicar, apenas para me distrair, até que caiu nas mãos de uma Câmara Portuguesa…


O livro tem pretensões históricas (há transcrições de documentos ao longo da obra)?

Tem sido, propositadamente. Estamos perdendo muito da nossa história e cultura; Não vi outra forma que não essa, de dar a minha contribuição para a preservação. Naturalmente, aflora-las, sem pretensão de as explorar, fornecer pistas para outras investigações, porque não caberiam num trabalho deste tipo.


Considera um remar contra a maré, publicar num país onde se lê muito pouco?

Há orçamentos públicos para patrocinar CDs, Festivais, Carnavais, Paródias, bailes, Shintadas… Não sou contra nada disso. Porém, é minha convicção que não existem critérios nem rigor na distribuição dos patrocínios. Não considero minimamente razoável, que se estejam gastando 50, 60, e mais milhões de escudos para colocar relvas sintéticas em campos de futebol, e não se disponibilize 100 ou 200 mil escudos para promoção cultural, literária, etc. Com 0,3% ou 0,55 dos montantes gastos com futebol, um escritor já faria muito.

Já vendi - melhor já saíram mais de 500 exemplares (entre vendas e ofertas). Escutei o prémio Camões 2009 a reclamar da escassa venda de seus livros. Logo, não estarei indo tão mal.

O hábito, nós todos é o que o teremos de criar. Uns mais que outros – instituições públicas, estarão a fazer pouco, para não dizer nada. E é assunto sério. Escrevi sobre isso há uns tempos. A iliteracia campeia. Somos cada vez mais analfabetos do ponto de vista funcional. A leitura é uma das formas de combate a esse fenómeno. Que programas existem? Nenhuns.


É possível viver somente da escrita em Cabo Verde?

Por agora não. Seria necessário primeiro criar o hábito de leitura. E ninguém está a fazer nada. Veja a actual ministra de educação de Portugal, tinha um programa para esse efeito. Há várias iniciativas por este mundo fora. O que há no nosso país? Nada.


Já numa 2ª edição, deve ter saldado as possíveis dívidas e hoje é só lucrar, não é?

Tenho um pequeno saldo por liquidar na gráfica da Praia. Felizmente pertence a uma pessoa amiga que vai protelando. Porque tenho a sorte de tê-lo como amigo. Senão não havia “Sodade de Nhâ Terra Saninklau”. Devo fazer justiça a algumas entidades: O IIPC, as Câmaras de Tarrafal, Sal, São Vicente, a Enapor, e amigos particulares, a que prefiro não divulgar. Observe que a minha Câmara (Ribeira Brava), e onde sou natural, e cenário da maioria dos contos, não consta do leque de patrocinadores… Estranho, não é?


Publicada (também) no Jornal NhaTerra Online

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