É um café e uma bomba atômica, por favor | Dai Varela

24 de agosto de 2014

É um café e uma bomba atômica, por favor


Quando se juntaram a capacidade inventiva e a raiva de 'caronchas' (insectos que vivem nos buracos do chão), nada mais conseguiu segurar meu amigo Tois de criar a primeira mini-explosão nuclear no Mindelo. Ainda acho que se não fosse aquela caroncha que em criança lhe entrou no ouvido causando grande preocupação hoje meu amigo não teria desenvolvido esta forma radical para aniquilar a colónia de 'caronchinhas' que apareceu nas traseiras da sua casa.

Na verdade, a sua primeira opção foi grelhar os bichinhos com gasolina mas o preço dos combustíveis tornara esta ideia proibitiva. Depois decidiu afogar os sacaninhas com água mas notou que neste tempo quente e com a ilha de São Vicente cheia de emigrantes a consumirem água de forma irresponsável o plano ficaria muito dispendioso. Apelou ainda para o envenenamento em massa mas foi com preocupação que viu as caronchas a se deliciarem com apetite como que a confirmarem que já estavam acostumadas a consumir pesticidas e outros venenos com que são regadas as produções agrícolas.

Foi por isso que, sem alternativa, Tois avançou para uma solução mais simples: uma minúscula bomba atómica. Mas para isso precisava de alguns componentes difíceis de encontrar em Cabo Verde. Fez uma pesquisa na Internet e encomendou plutónio na forma de Isótopo U-235 para fazer a fissão nuclear. Só após enviar o email que percebeu a cagada que tinha cometido. Em resposta ao pedido do componente recebeu um correio electrónico com a seguinte mensagem: 

“Este email foi eliminado pela CIA. Entretanto, garantimos que a CIA não vigia as comunicações de Cabo Verde. Apenas vigiamos aquilo que está realmente protegido. O resto simplesmente olhamos.” 

A solução foi recorrer ao mercado local. Em contacto com o capitão de um navio com bandeira de um país asiático comprou a quantidade necessária de Isótopo U-235 que foi retirada de um dos barris de produtos radioativos que pretendiam despejar ao largo da praia da Laginha. Quando chegou em casa viu que o produto estava fora de prazo mas lembrou-se que a ideia era fazer os bichos sofrerem por isso não iria se preocupar com este detalhe.

Quando iniciou o processo de enriquecimento nuclear deu-se conta que era preciso uma enorme quantidade de água. Teve que recorrer a água do mar para que a reacção funcionasse. A centrifugação da água foi controlada por um funcionário da Electra que é apontado como o principal produtor da água paralela e de alta qualidade que está disponível apenas aos seus funcionários. 

Ainda teve alguns problemas burocráticos mas resolveu-os a todos porque a construção e detonação de aparelhos nucleares não viola nenhuma lei em Cabo Verde.

Hoje já não tem caronchas ao redor da casa do meu amigo mas este pode ser considerado um sucesso parcial. Isto porque quando resolveu detonar a mini-bomba ele usou um pavio muito curto que não lhe deu tempo de correr para um local seguro e longe. É por isso que agora meu amigo brilha no escuro...

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