[Desafio Criativo Nº4] - Três dias e um adeus | Dai Varela

1 de maio de 2012

[Desafio Criativo Nº4] - Três dias e um adeus

Apenas a cara séria do médico fazia com que não soltasse uma gargalhada histérica. Como assim “somente três dias de vida”? Repetia com angústia e um olhar de súplica sobre o doutor Carlos Santos que confirmava-lhe o veredicto. Três dias. Daqui a três dias teu coração parará de bater e teu último suspiro se esvaziará, sentenciou o médico. 

Lágrimas frenéticas escorreram pela cara da Tofu enquanto pensava na injustiça de ter que deixar este mundo na flor da idade. Ninguém deveria morrer tão jovem. O que tinha feito durante todo esse tempo? O que deixaria para trás? Que recordações as pessoas teriam de mim? Isto não é justo. 

Chegado em casa Tofu resolveu que iria vender todos os seus bens. Bens, estes que foram deixados pelos seus pais antes de morrerem. Sendo que ela não tinha herdeiros então o melhor era vender tudo e viver os últimos três dias com muita abundância, e o que sobrar dividir aos pobres. 

E assim, no primeiro dos três dias Tofu deu uma rica festa. Festa “d´quel bom” onde levar alguma coisa era considerado uma ofensa enorme, tanto que uma amiga da Tofu foi proibida de entrar na festa porque trazia nas mãos uma garrafa de whisky. Todos beberam e comeram à vontade, havia cabines na festa que a entrada dizia “entrá li só se bó tem intenção de ganhá cinquenta kont” e para ganhar os cinquenta contos era só tirar uma peça de roupa perante os amigos, o melhor foi que houve gente, que chorou não ter mais roupa para despir, pois o objectivo era ficar “nú pelod” e assim saiam da festa com mais dinheiro. A medida que as horas passavam Tofu ficava desesperada. 

- Faltá pok temp p sol nascé e te restam apenas dois dias - dizia Tofu super angustiada. 

Tofu destinou ao segundo dia como o dia de “passá sab ou mais sab ainda” pois ela pagou dois homens bem apanhados para tratarem da sua saúde, pois Tofu tinha apenas 22 anos e ainda não tinha experimentado nada acerca dos prazeres da carne, era o dia em que ela iria realizar todas as suas inúmeras fantasias. Nesta noite quando parecia correr tudo bem ela sentiu pela primeira vez uma vontade enorme de matar ou seja de levar alguém para o inferno junto com ela, assim ela deixaria alguma coisa com que o mundo lembrasse dela. Afinal de contas ela não merecia morrer, e nem os outros viver. 

Tofu ao ver aqueles dois homens exaustos a dormir, desceu da cama, abriu o armário pegou no revolver, e deu dois tiros certeiros. Um tiro para cada um deles. 

Movida pelo ódio questionava tudo. E resolveu que iria ficar em casa quieta esperando o último suspiro junto com os homens que acabara de matar. 

Neste último dia parecia, para Tofu que as horas andavam mais rápido, á medida que as horas passavam ela ficava mais assustada pois nada acontecia. Depois do terceiro dia, veio o quarto e nada, ela continuava viva e a sua mente inundava de perguntas, será que o médico enganou no diagnóstico? O que é que vou fazer? 

Tofu super perturbada olhou para o revólver e para os corpos inúmeras vezes até que o som de mais um tiro disparado fez-se sentir. 


OBS: este texto é da autoria de  Stephanie da Luz  e faz parte do Concurso de Escrita Criativa

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