A qualidade dos produtos alimentares que consumimos está na ordem do dia, o que significa que o consumidor deve estar atento aos males que ainda ameaçam a sua segurança alimentar, entre eles, os produtos fora de prazo, mal conservados e com rótulos em língua estrangeira, ou até mesmo no sentido de se precaverem contra o facto de ainda existirem dificuldades na inspecção, nomeadamente a inexistência de laboratórios para o efeito, como é o caso de São Vicente.
Nesta primeira grande reportagem sobre esta matéria, seguimos o percurso dos produtos alimentares, desde a chegada nos nossos portos e aeroportos, passando pelas estantes das lojas até chegar à sua mesa.
Ainda há muito por fazer na Segurança Alimentar |
O processo de inspecção alimentar inicia-se quando o operador económico faz o pedido de importação num prazo de quinze dias ao Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR). Esta é a entidade que tem a responsabilidade de fazer a inspecção dos produtos nos pontos de entrada do país tais como portos e aeroportos. Trata-se da fase documental com a apresentação de um certificado sanitário do produto com assinatura de um veterinário do Ministério da Agricultura daquele país e com carimbo do consulado ou embaixada de Cabo Verde. A partir deste momento começa a inspecção onde o MDR irá verificar se entre nossos países há relações comerciais. A análise de risco do produto no seu país de origem é feita através da Internet. Por exemplo, se for carne de vaca verifica-se se há registo de problemas sanitários como o vulgarmente conhecido “doença das vacas loucas” ou outras que afectam alguns países e que Cabo Verde tem que se proteger. “Quando verificamos que não há nenhum risco para o país, autorizamos a importação”, garante a delegada do MDR em São Vicente, Francisca Fortes.
Inspecção com luvas e termómetros
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Francisca Fortes - Delegada MDR/SV |
A chegada do produto nos portos ou aeroportos deve ser comunicada pelo operador económico aos inspectores que procederão à fiscalização da mercadoria antes de ser comercializada. É nesta fase que começam as dificuldades porque os inspectores não dispõem mais do que “luvas e termómetros”, como nos conta a delegada do MDR. “Trata-se de uma inspecção organoléptica, ou seja, é inspeccionado a embalagem, o lote, sua apresentação e temperatura ideal porque infelizmente ainda não temos laboratórios”, justifica Francisca Fortes que até 2010 só tinha dois inspectores mas que desde de Janeiro a ilha conta com sete a prestarem serviços. “Neste momento não temos problemas de recursos humanos para inspeccionar os cerca de noventa operadores económicos de São Vicente”, afirma a delegada que também fala na destruição de produtos quando não estão aptos para o consumo, mas “quando há dúvidas” recolhe-se amostras que são enviados para laboratório e só após o resultado é que se decide o seu destino. O facto é que não há laboratório na ilha pelo que as amostras são enviadas para Praia ou então ao Senegal. “Nunca deixamos um produto duvidoso entrar no mercado e os que são autorizados pelos nossos inspectores são de boa qualidade”, garante.
Inspecção nas Estantes das Lojas
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Lucy Karelia Ochoa |
Depois de autorizados pelo MDR os produtos alimentares entram no mercado de consumo e o controlo de qualidade agora é feito por uma equipa composta por técnicos da Delegacia de Saúde de SV, Policia Nacional, fiscal da Câmara Municipal e pelos inspectores da Inspecção Geral das Actividades Económicas (IGAE). “Dificilmente encontra-se produtos fora de prazo e esses casos acontecem tanto na periferia como no centro da cidade”, garante Lucy Karelia Ochoa que trabalha há dezoito anos como técnica de Higiene e Epidemiologia na inspecção de produtos na ilha e que afirma que “as coisas melhoraram muito” em termos de qualidade dos produtos colocados para consumo. “Creio que os comerciantes já tomaram consciência do que representa a venda de produtos fora de prazo e mesmo a população tornou-se mais consciente e já evitam comprar”, conta a técnica sanitária.
Prazos
O trabalho consiste em verificar os prazos de validade, estado de conservação do produto, higiene e aspecto. “Quando entramos num estabelecimento”, afiança Ochoa “inspeccionamos praticamente tudo” e são feitas recomendações aos comerciantes que têm prazos para as cumprirem. Dependendo da gravidade da infracção a equipa pode inutilizar um produto no acto da inspecção ou decidir deixar apreendido para posterior destruição na lixeira municipal. Vale realçar que este trabalho de inspecção não é feito com muita regularidade e uma das razões apontadas pela técnica é a necessidade de “uma equipa de trabalho fixa” de forma a poder-se fazer inspecções diárias.
ADECO: “há mais reclamações na Praia…”
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António Pedro Silva - Presidente ADECO |
A associação de defesa do consumidor, ADECO, avança que nos últimos tempos não tem entrado muita denúncia em São Vicente quanto a qualidade dos alimentos, tendo a registar somente uma reclamação por causa de produtos fora de prazo de validade e outra com a data alterada. Por outro lado garante que na cidade da Praia há reclamações. “O problema é que as pessoas não formalizam com dados suficientes para que a ADECO possa confirmar o facto”, afirma António Pedro Silva, presidente da direcção da ADECO, que aponta a falta de envolvimento activo das pessoas na capital nesta actividade de protecção do consumidor. “Quando um consumidor faz uma queixa o que procuramos é adquirir provas através da compra do produto em causa e apresentá-las às autoridades”, diz o presidente da ADECO que considera a imprensa como um bom meio para fazer a denúncia pública quando a saúde da população estiver em risco, mas que a qualidade dos produtos alimentares comercializados “melhorou” nos últimos tempos.
9 comentários:
posso dizer que ainda há muito que fazer nesta aréa pois nesta terra há poucos profissionais competentes capazes de fazer aquilo que chamamos de fiscalização alimentar pois aquilo q fazem é esconder os produtos de pessima qualidade por debaixo do pano não importando q o próprio fiscal pode chegar em casa e ingerir este produto que ele mesmo deixou passar infelizmente essa é a nossa realidade
e a outra parte da reportagem...terei que comprar o jornal para o ler???heheheheheheh
Realmente as coisas não estão tão bem, sté. Esperemos que resolvam estas deficiências rapidamente para a segurança de todos.
Oii Criola di terra
Já sabes que sópublico artigos da minha autoria, por isso se quiseres o resto tens sim que comprar o jornal.
abraço
Saber que em Cabo Verde as inspecções alimentares se fazem de maneira sensorial devido aos parcos recursos que existem deviam peocupar tudo e todos. Mas acho que o cabo-verdiano tem crenças bem grandes para não levar estes pequenos aspectos em conta. e como também não existem divulgados de grands casos de intoxicação alimentar, esses aspectos passam literalmente ao lado. No dia em que pessoas começarem a morrer por causa de alimentos em péssimos estados as coisas vão, da nossa maneira que conhecemos, mudar...ou não.
Olá.
Esse tema é um tema q realmente me interessa e em q acho q existe grande carência em Cabo Verde.Carência não só a nivel de recursos(laboratorios,entre outros)assim cm a nivel de capacitação dos Inspectores.
Eu fui um deles,e verificando a minha falta de capacitação e sabendo q se não fosse por iniciativa propria eu não ia conseguir,me propus a sair de Cabo Verde e neste momento,estou fazendo um Mestrado em Segurança Alimentar(pela Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa).
Espero em breve conseguir esse mestrado e voltar pa CV e assim tentar dar uma contribuição maior ao desenvolvimento do meu país nesse grande problema q se chama Segurança Alimentar.
Qq esclarecimento q precisem de alguma ajuda,estarei disponivel,como bom caboverdiano e Mindelense
Olá Mestrando. Realmente esse é um assunto muito pertinente aqui em Cabo Verde, ainda mais porque sabemos que aqui as inpecções são feitas de forma sensorial e pouco satisfatória. Espero que consiguas terminar o seu mestrando em segurança alimentar com muito sucesso e ideias novas para implementar em Cabo Verde. O pessoal que trabalha nessa área poderia ser mais responsáveis e fornecer certas informações sobre esse assunto quendo´lhes são perguntadas. Parece que aqui em CV quando se assume um posto de grande responsabilidade pensa-se que é rei e acham-se no direito de "dar os outros padodu". Espero que com teus estudos consigas um cargo de grande responsabilidade para que sejas útil não só para a instituição como também para os cidadãos e aqueles que querem informações.
Abc
Anonimo,mt obrigado e é cm a vontade de melhorar e de ajudar o meu país que resolvi sair outra vez de Cabo Verde.
Agora é me dedicar afincadamente aos estudos e esperar q no regresso possa realmente ajudar.
Oi Mestrando
prazer por te ver por cá.
Também eu quero te pedir a mesma coisa: quando estiveres na frente de alguma instituição, POR FAVOR, disponibiliza a informação para que possamos fazer um trabalho cada vez melhor.
Votos de sucesso nos teus estudos e espero que regresses o mais rápido possível para dares o teu contributo a nossa terrinha querida.
Abraço
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