Sofia entra para história de Cabo Verde | Dai Varela

14 de agosto de 2011

Sofia entra para história de Cabo Verde

Sofia Cristina, 18 anos, prepara-se em São Vicente para tornar-se na primeira atleta de Taekwondo (artes marciais), residente no País, a representar Cabo Verde numa competição internacional.

Sofia Cristina
Uma atleta cheia de genica que percorre 20 quilómetros - duas vezes ao dia -, com o objectivo de estar pronta para os Jogos Pan-Africanos de Maputo (Moçambique), onde tem a responsabilidade de substituir Fredson Gomes, vencedor (2003) da única medalha de ouro de Cabo Verde no Pan-Africano.

Para conseguir treinar na placa desportiva da sua Escola, o Liceu “José Augusto Pinto”, Sofia Cristina precisa fazer um longo percurso de dez quilómetros entre a sua casa no Madeiral (zona rural) até ao centro do Mindelo. Duas vezes ao dia. 

“Depois de ver o anúncio na escola de que um atleta com 11 medalhas de ouro em torneios internacionais iria ensinar Taekwondo aos alunos, decidi inscrever-me”, conta Sofia que ficou entusiasmada ao ver todas as potencialidades deste desporto. “Apaixonei-me pela modalidade e comecei a treinar sem nunca imaginar que poderia estar neste patamar agora. Tento evoluir constantemente, evitando cometer os mesmos erros nos vários combates para que meu treinador tenha sempre mais vontade de continuar a trabalhar comigo”.

Mas este esforço já começou a dar seus frutos.O talento e a energia de são reconhecidos por Djoy Pina, seleccionador nacional nas artes marciais,que veio a Cabo Verde observar a evolução dos atletas que já estão há mais de dois meses treinando em São Vicente. “Um dos seus objectivos era observar atletas femininos que é uma das áreas com maior carência na selecção nacional de Taekwondo que tem só homens e que residem no estrangeiro. Ao ver o desempenho de Sofia, Djoy Pina apontou-a como sua primeira escolha”, conta Gilson Rodrigues [click aqui e veja a entrevista], seu treinador e também o primeiro atleta a representar Cabo Verde num Campeonato do Mundo de Taekwondo na Dinamarcaem 2009.

“Fredson Gomes”, acrescenta Rodrigues,“que foi campeão em 2003 e teve agora a oportunidade de defender o seu título em 2011 mas ele sofreu uma fractura na perna esquerda e o seu suplente, Daniel “Dimas” Pina, do Sal, teve uma fractura na perna direita, pelo que era necessário colocar um outro atleta para representar Cabo Verde”. 


TREINAR, TREINAR E… TREINAR MAIS

E assim surgiu a possibilidade da Sofia Cristina integrar a comitiva que irá disputar o Pan-Africano, em Maputo (Moçambique), estando todas as despesas já asseguradas. “Quando
Sofia Cristina a treinar com Gilson
 recebi o convite fiquei surpresa e feliz mas também sei que isso acarreta muita responsabilidade”, diz Sofia, emocionada com a possibilidade de representar Cabo Verde numa grande competição internacional. 

O objectivo do seu treinador Gilson Rodrigues é fazer com que Sofia compita e ganhe experiência para que ela possa transmitir aos outros atletas nacionais e aproveitar para lançar sua carreira desportiva. “Vontade e firmeza não lhe faltam tanto nos treinos como na competição, tendo ganho os três torneios internos que já realizamos”, revela Gilson que acredita que a“preparação física, a técnica e a táctica é possível treinar em tão curto espaço de tempo”.

Rodrigues reconhece que o mais difícil é treinar a parte psicológica porque isso depende de cada um. “Se não estiveres com a cabeça no lugar e com vontade própria não consegues. É por isso que tenho confiança que a Sofia terá um bom desempenho nos Jogos porque ela tem essa garra e essa vontade de ganhar”.


E O QUE IRÁ GANHAR?

Sofia Cristina e Gilson Rodrigues
Gilson acredita que em quatro meses consegue preparar Sofia para participar num evento
 tão forte como o Pan-Africano de Maputo. “É verdade que ela não tem a experiência de muitas atletas que irá defrontar em combate mas temos que começar por algum lado para que possa ganhar experiência. Não estou levando Sofia com ideia de que ela trará uma medalha de ouro, de prata ou de bronze para Cabo Verde. Mas se ela conseguir uma medalha nos Jogos Africanos o mérito será todo dela porque se levo Sofia é porque tenho certeza de que ela irá ganhar. E o que irá ganhar? Experiência de competição internacional”.

E será através dessa experiência ganha que os cerca de 60 alunos que treinam diariamente com Gilson se sentirão motivados para o Taekwondo. Porque uma coisa é Gilson Rodrigues, atleta do Benfica de Lisboa (Portugal), que viveu no exterior dizer-lhes que esteve no Campeonato do Mundo e em outros palcos e outra bem diferente é Sofia, sua colega de escola, que começou a treinar com eles explicar-lhes como e porquê perdeu ou ganhou um combate e quais foram os erros que cometeu contra atletas de outros países. 

“Desta forma eles se sentem muito mais próximos do Taekwondo e mais motivados para treinarem com a meta de também eles um dia representarem Cabo Verde”, revela um Gilson Rodrigues muito motivado.


O QUE SÃO OS JOGOS PAN-AFRICANOS? 

Logo dos Jogos Pan-Africanos
Os Jogos Pan-africanos de 2011 serão realizados em Maputo, capital de Moçambique, entre 3 e 18 de Setembro. A cidade substitui a eleita Lusaka, Zâmbia, que desistiu de organizar os Jogos por falta de recursos financeiros. Moçambique deverá receber pouco mais de 30 mil turistas durante os Jogos, segundo fonte da organização daquele evento desportivo. Cabo Verde tem viagem marcada para 2 de Setembro e o desfile de apresentação da Selecção será logo no dia a seguir em Maputo e o regresso está agendado para 19 de Setembro. 

A última vez que Cabo Verde esteve nos Jogos foi em 2003 e vencemos a nossa única medalha de ouro com Fredson Gomes, no Taekwondo, e na edição de 2007 fomos o único país de África a não participar. Nesta edição Fredson teve a oportunidade de defender a sua medalha mas, infelizmente, lesionou-se e agora Sofia tem a responsabilidade de substituir um atleta que foi campeão Pan-Africano. “Sofia será a primeira atleta na história do Taekwondo de Cabo Verde que terá conhecida a modalidade dentro do país, treina e reside aqui e irá representar o seu país e isto deve ser encarada por ela como uma grande honra”, termina seu treinador, optimista quanto ao desempenho da sua pupila.






Publicada (também) no jornal A NAÇÃO Nº 206




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