Cárcere em Mente [Cap. 3] | Dai Varela

22 de dezembro de 2009

Cárcere em Mente [Cap. 3]

Capítulo 3: [Ar, finalmente, ar!]

- Que sonho mais estranho, pensei para comigo. Ainda bem que foi tudo um sonho. Pois claro, na cabeça de quem caberia a ideia de um homem na minha posição a comer um gato? Estranhamente sinto-me melhor… muito mais restabelecido.

Já escureceu. Chegou a hora de fugir daqui. O momento de partir e deixar para trás este quarto de três passadas e uma esteira no chão chegou. Não há nada aqui que eu queira levar comigo. Se pudesse deixaria este cheiro fétido aqui, juntamente com essas paredes negras e esburacadas. A primeira etapa é alcançar esse buraco lá no cimo para conseguir chegar à janela. Mesmo com esta dor nas costelas sinto que foi mais fácil alcançar este buraco hoje. Estou mesmo melhor agora. Deve ser das horas de sono. Apenas mais um esforço e chego a janela. Só é pena o gato não estar cá agora, eu até seria capaz de levá-lo comigo. Onde será que ele estará? Rezo para que ele não começa com o barulho como da outra vez. Ah, mas desta vez eu o comeria, de certeza que o comeria.

Finalmente cheguei à janela e com isso regressou mais forte as dores nas costelas mas mesmo assim inspiro o ar com força para dentro dos pulmões o que me fez sentir tonturas. A noite tinha perdido algum do breu de ontem o que fazia com que eu pudesse distinguir algumas árvores lá ao longe e algumas pedras aqui perto. Mesmo sem o ver eu sabia que era a Lua quem alumiava a noite de hoje. E, para a minha surpresa e medo pude notar que a janela não ficava perto do chão. Talvez eu esteja no primeiro andar desta casa mas não consigo rodar o meu pescoço por causa da dor e do esforço. Consigo distinguir algumas plantas lá em baixo mas não sei se serão suficientes para amolecer a minha queda.

Pareceu-me ouvir qualquer coisa, ponho-me à escuta mas não ouço mais nada, talvez seja o gato mas eu é que não vou descer daqui para ir buscá-lo, não vou mesmo. Consegui passar o corpo pela janela desejando que desse lado da parede também seja esburacada. Mas para meu azar é liso como o diabo, vou ter que largar as mãos e cair desamparado. Seja o que Deus quiser, mas tenho que sair daqui. Meu cérebro já deu ordem para largar mas as minhas mãos teimam em ficar agarradas, mas sei que será somente uma questão de tempo para elas não conseguirem mais aguentar com o peso do meu corpo. A Lua deve ter-se escondido atrás de alguma nuvem porque de repente ficou tudo escuro e foi quando senti meus dedos cedendo e automaticamente meus olhos se fecharam numa breve prece a espera do embate...

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