Cárcere em Mente [Cap. 1] | Dai Varela

5 de outubro de 2009

Cárcere em Mente [Cap. 1]

Capítulo 1: [Fuga Para Dentro]
- PAM! Um som forte percorre a noite quando a janela de madeira escurecida embate na parede de blocos maciços. Meus olhos vermelhos perscrutam a escuridão. - Preciso fugir! Será que alguém ouviu? Se uma árvore cair no meio da floresta e não houver ninguém para escutar, será que ouve barulho? Preciso me concentrar. Sei que me restam poucas forças, mas tenho de encontrar ajuda. Há quantos dias estarei eu aqui?

Tenho as articulações doridas, meus joelhos estão inchados, mas eu preciso me pôr de pé. Num dia normal eu não teria problemas em saltar por essa janela. Mas hoje não é um dia normal. Preciso sair daqui antes que eles voltem. Minhas costelas reclamam por causa do esforço que faço para me levantar. Qual será o meu peso agora depois de todo esse tempo à fome?

- António Barros, concentra-te! Já há muito tempo que és um homem, por isso não vais chorar. Esses cabelos grisalhos são sinónimo de experiência, não de decadência. Preciso me manter alerta! Tenho que saltar por essa janela, mas lá fora está muito escuro. Muito escuro, essa é boa. Não vais me dizer que um homem de 52 anos bem vividos está com medo do escuro? Concentra-te António! Lembras do passeio de fim de curso que fizemos à floresta junta a nossa universidade? Bons tempos esses, quando era estudante de Gestão Bancária no Instituto de São Paulo. Quando foi esse passeio mesmo? Foi nos anos oitenta, não é? Eu me lembro bem desse passeio, pois me perdi juntamente com outro colega no meio da floresta. E a noite caiu sobre nós com todos os seus sons esquisitos. Eu preferi manter os olhos fechados – não iria conseguir ver nada mesmo – dizia-lhe. Mas ele me disse, abra os olhos que eles irão se acostumar com a escuridão e vais poder ver no escuro. Preciso manter meus olhos abertos!

Tenho de alcançar aquela rachadura na parede para me servir de apoio se quiser alcançar aquela janela. Não vai ser tarefa fácil com essa parede molhada com esta água vinda não sei de onde. Consegui chegar com a mão à rachadura da parede e num impulso final consigo alcançar a borda da janela com a outra mão. Consigo ouvir minhas costelas a estalarem. Queria gritar, mas a dor ficou sufocada num suspiro. Ainda não chegou a tua hora, penso para comigo. Vamos lá, só mais um último esforço. Consegui passar a cabeça pela abertura da janela. Não consigo distinguir nada. Está uma noite escura. Escura e fria. Não há nenhum som, nem o mais leve sinal de movimento vindo do exterior. Só posso estar num local muito isolado.

- Oh não! Ouvi qualquer coisa. Tem alguém vindo na minha direcção. Preciso subir depressa. Eu sei que posso atravessar esta janela, mas não a essa velocidade. Estão-se a aproximar. Meu Deus, vão-me pegar a fugir. Talvez seja melhor descer e esperar por uma outra oportunidade. Mas depois de todo este esforço? Será que serei capaz de subir aqui de novo? Vou fechar a janela e descer para esperar por uma outra oportunidade. Não quero ser pego a fugir. Não sei o que é que aconteceria se eles me surpreendessem a tentar escapar daqui. Agora, aqui sentado, as minhas costelas doem-me mais ainda. Vão entrar a qualquer momento! Preciso controlar a minha respiração ofegante. Acho que não vou conseguir subir essa parede outra vez. Eu deveria ter tentado a minha sorte. Que barulho esquisito eles fazem ao andar. Como se andassem aos tropeções. Talvez estejam bêbados. Ou drogados. Será que desistiram? Porquê esse silêncio?...

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  2. O conto começa com uma questão legítima, mas mesmo assim de perigosa resposta. Cárcere em mente parece ser uma profunda reflexão sobre o que aprisionamos dentro de nós, inconscientemente e acaba por nos atormentar. Um conto profundo.

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