Protestos: um "monstro" no Brasil e um "bichinho" em Cabo Verde | Dai Varela

19 de junho de 2013

Protestos: um "monstro" no Brasil e um "bichinho" em Cabo Verde


Para quem assiste aos protestos actuais no Brasil e os recentes na “Primavera Árabe” ou os da Turquia sabe que há uma coisa em comum: a Internet, ou melhor, o poder das
Como não encontrei nenhuma foto 
de protestos em Cabo Verde... 
redes sociais em juntar pessoas sob o mesmo objectivo e, já agora, no mesmo lugar físico (na rua) para protestar. 

Esses países fizeram um grande investimento nesta tecnologia e hoje talvez seus governantes mais conservadores deverão estar arrependidos do esforço de levar a Internet até aos locais mais recônditos dos seus territórios. Pois claro, a intenção deles não era criar um “monstro” para depois perder o controlo sobre ele. 

Não é à toa que países mais protectores como a China, Cuba ou o Irão mantêm um estreito controlo sobre a utilização desta tecnologia. Isto porque, se a comunicação pode ser uma das maiores ferramentas para que duas pessoas se entendam, ela também pode ser a forma de um grupo de descontentes marcarem hora e local para os protestos contra o Governo.


O "monstro" em Cabo Verde

Mas, e Cabo Verde? Será que a Internet já atingiu um patamar de “monstro”? Se é, trata-se de um “monstro” controlado pelo poder ou, por outro lado, não está sob controlo mas não há população alfabetizada digitalmente para fazer uso massivo dele? Quiçá não haja problemas sociais tão graves que precisem de mobilização das pessoas na rua através das redes sociais?

Para um país que conheceu a Internet apenas em finais de 1996 através de um serviço lento e caro da Cabo Verde Telecom ainda há muito para alimentar o “bichinho” até que se torne um “monstro”. Iniciamos esta caminhada com 220 computadores, na maioria pertencentes aos organismos do Estado (nesta altura era mais fácil “desligar” a Internet) e hoje somos o quarto país africano com maior taxa de penetração, de acordo com a “Estatística do Mercado de Serviços de Comunicações Electrónicas Acessíveis ao Público em Cabo Verde”, da ANAC (2011).


Como bloquear a Internet em Cabo Verde

Durante a “Primavera Árabe” procurou-se bloquear o acesso à Internet e as comunicações móveis foram momentaneamente interrompidas. Em Cabo Verde, no caso de o meio milhão de habitantes iniciar uma possível onda de protestos na rua estimulado através das redes sociais, não seria difícil (caso o Estado assim o resolvesse) bloquear os cerca de 22 mil assinantes de Internet nacionais. De se notar que o arquipélago tem dois cabos submarinos de fibra óptica (o mais recente custou 25 milhões de dólares) e que regularmente fica-se sem comunicação em banda larga porque algum barco negligente operando no Porto da Praia corta-os, principalmente o ATLANTIS 2, montado desde o ano 2000. É certo que o monopólio de prestação de serviço de Internet pela empresa CVTelecom “terminou” em 2006 com a entrada no mercado da Cabocom (Sal) e a CV Wifi (São Vicente), bem como da MB Investimentos, a CV Satélite Wireless e a Cabo TLC, mas sabes onde a maioria destas empresas vai comprar "pacotes de Internet" para tercerizar?. 

Neste momento que se acompanha a tumultuosos protestos em várias partes do globo e com a imprensa a dizer que as pessoas se reúnem e se organizam através das redes sociais será que os Governos estarão a repensar a massificação da internet nos países que ainda não o conseguiram? Será que o nosso Ministério das Infraestruturas, Transportes e Telecomunicações ainda considera que estarmos na 91ª posição (de 177) dos países que mais usam Internet no mundo é uma boa opção? Bom, mais uma vez, é grande a possibilidade de cortar a Internet para estes 32 porcentos da população online que o “Estado da Banda Larga 2012” da ONU diz ter em Cabo Verde. 


É desligar o Konecta e pronto

Uma tarefa facilitada se levar em conta que muitos que fazem parte desta percentagem usam Internet através do projecto Konecta, que possibilita aos jovens o acesso gratuito à Internet nas praças digitais espalhadas em todos os municípios do país. É verdade que trata-se de um serviço lento e de baixa qualidade (já o usei em vários pontos do país) mas creio que daria para marcar umas manifestações interessantes. 

Cabo Verde já está a introduzir redes de comunicações móveis terrestres de quarta geração (4G) e os cursos de “iniciação à informática” já não estão a atrair muitos alunos porque as pessoas quase que já sabem de tudo. Entretanto, parece que ainda não há motivos para protestar ou então os descontentes não estão a se encontrar online ao mesmo tempo no Facebook.


  1. Com as apagões da electra eheheheh

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  2. Daniel Ernesto Aguiar19 de junho de 2013 às 14:36

    No Brasil está a haver um aproveitamento do direito de manifestação, por grupos talvez organizados mas bastante mal intencionados que estão a promover a violencia e o desacato no meio dos manifestantes. Os EUA, expoente da Internet respondem a toda a hora a reclamações sobre o direito a espiarem as 'conversações' e 'transações' na rede alegando o combate ao terrorismo como justificação. No entanto lá a internet serve para fazer muito de util e não só fofoca e confusão, até porque se levam a conversa para esse campo, sabem bem como o bicho pega.

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