Leão Lopes: universitários estão "descalços" | Dai Varela

25 de junho de 2012

Leão Lopes: universitários estão "descalços"

Em matéria de História de Cabo Verde os universitários estão “descalços”, alerta Leão Lopes, investigador e professor do ensino superior. O autor da biografia "Baltasar Lopes: um homem arquipélago na linha de todas as batalhas" é crítico em relação ao sistema de ensino que, no seu entender, precisa de uma “reforma profunda” capaz de produzir jovens investigadores para lançar luz sobre “zonas obscuras” do nosso percurso. 


Leão Lopes - A juventude precisa descobrir aspectos
mais nebulosos da nossa História
Abordado pelo A NAÇÃO sobre as fragilidades do sistema de ensino em relação ao legado cultural e histórico, Leão Lopes considera que os planos curriculares em matéria de História são deficientes. “Sou professor e uma das coisas que mais me desconcerta é que os alunos universitários chegam sem os conhecimentos mais básicos da história. São tantas fragilidades que se pode afirmar que chegam descalços”. Para Lopes, isto significa que o sistema não está a funcionar bem e não consegue criar o interesse nos alunos. 

“Não percebo porque ainda não assumiram de vez uma reforma de ensino de raiz cabo-verdiana. Nunca tivemos uma reforma cabo-verdiana mas sim colada a Portugal. Se eles mudam, nós mudamos também. Já temos capacidade científica suficiente para admitir que os resultados das leis gerais não eram aquilo que estávamos à espera. Vamos aproveitar aquilo que é bom e mexer em tudo para que as gerações futuras possam conhecer melhor nosso legado”, observa o ex-ministro da Cultura. 

O problema identificado pelo investigador é que os cabo-verdianos mostram-se demasiados conservadores e que quando chegam ao poder são “casmurros”. “Se a própria sociedade, através dos seus vários sectores, sentem que há um problema e que há vontade de progredir, as políticas deveriam responder a esses desafios”, recomenda Leão Lopes. 

“Ainda é cedo abordar certos aspectos da nossa História” 

Recentemente tem-se verificado a publicação de várias obras sobre a história de Cabo Verde, uma situação considerada por Lopes “uma mais-valia” pois, “desde que sejam trabalhos minimamente sérios, elas trazem contribuições ao campo científico”, mesmo que não se esteja de acordo com a abordagem dos seus autores. “São obras que se espera conseguirem trazer luz para algumas zonas cinzentas ou obscuras do nosso percurso”, afirma Leão Lopes, reconhecendo que há “algumas razões” que nos leva a negar abordar determinados aspectos ou momentos de Cabo Verde. “Ou talvez porque ainda é cedo abordar certos capítulos da nossa história”, expressa. 

Embora haja quem afirma que a história do país mais recente da pós-Independência está ainda muito fresca para se mexer nela, Lopes, que também é cineasta, acredita que há abordagens nas áreas do cinema, teatro, literatura e nas artes em geral que poderiam ajudar. “É capaz de ser cedo, não por deficiência de apreensão da nossa história recente, mas talvez por falha do nosso sistema que ainda não produziu jovens criadores para se apropriarem deste manancial que o nosso património nos oferece”. 

De qualquer forma, Lopes acredita que a medida que o país avançar na área de investigação e também culturalmente, com certeza que essas “zonas nebulosas da história” despertarão interesse nos jovens investigadores e estas “irão clarificar-se”. 

Outro aspecto de registo histórico que está a brotar em Cabo Verde é a produção de autobiografias. Determinados autores que chegando a um ponto das suas vidas decidem que têm que contar as suas histórias. “Infelizmente estes são mal divulgados e pior distribuídos porque são quase sempre edição do autor”, lamenta Lopes. 

“Sem esquecer que há outra linha de contribuições inéditas de histórias de famílias que preenchem alguns vazios na história global deste país”, afirma o professor universitário, que já participou na publicação de dois livros do tipo. 

Baltasar Lopes, figura histórica incontornável 

Como historiador, Leão Lopes decidiu trabalhar a figura de Baltasar Lopes da Silva, considerado uma figura incontornável para compreender a realidade cabo-verdiana em todas as suas dimensões. Na obra "Baltasar Lopes: um homem arquipélago na linha de todas as batalhas", que derivou da sua tese de doutoramento e lançada em 2011, o cronista revela uma dimensão intelectual de “Nhô Balta” que espanta os estudiosos que debruçaram sobre Baltasar Lopes. 

Agora que já está publicado e esgotado a primeira edição, deixa o livro seguir seu caminho, mas revela que seu interesse pela história de Cabo Verde e pelas figuras que a marcaram não se esgotaram em Baltasar Lopes da Silva. Apesar de admirar e estudar outras personalidades, Leão Lopes questiona se terá forças para fazer outro trabalho publicável. Certo é que há produções de jovens com suas monografias universitárias, teses de níveis de mestrado ou doutoramento que demonstram que há estudos nesta área. Mas, considera o investigador, é necessário que sejam conhecidas para além das Universidades. 


  1. Parabéns, Odair e parabéns Leão Lopes!
    A excelente entrevista de um e as acertadíssimas afirmações do outro merecem os maiores encómios. Eu próprio, nos meus dois regressos a Cabo Verde, perguntava aos miúdos filhos de amigos cabo-verdianos o que sabiam da História do país e eles, nada! Com a minha deformação de professor e investigador de História e História da Arte, queria que me mostrassem os seus livros de História e... nada! Isto, há 11 anos. Pelos vistos, a coisa continua.
    Há que trabalhar no sentido contrário à corrente de laxismo histórico que em Cabo Verde como em Portugal se faz sentir. Eu estou neste momento a suar um pouco nesse sentido, relativamente aos nossos dois países. Na altura própria, darei notícias, pois agora ainda é prematuro...
    Braça
    Djack

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  2. Muito agradecido, Djack.
    Abraço

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  3. Parabéns,
    Odair e parabéns Leão Lopes! 
    A excelente entrevista de um e as acertadíssimas
    afirmações do outro merecem os maiores encómios. Eu próprio, nos meus dois
    regressos a Cabo Verde, perguntava aos miúdos filhos de amigos cabo-verdianos o
    que sabiam da História do país e eles, nada! Com a minha formação de professor
    e investigador de História e História da Arte, queria que me mostrassem os seus
    livros de História e... nada! Isto, há 11 anos. Pelos vistos, a coisa continua. 
    Há que trabalhar no sentido contrário à corrente
    de laxismo histórico que em Cabo Verde como em Portugal se faz sentir. Eu estou
    neste momento a suar um pouco nesse sentido, relativamente aos nossos dois
    países. Na altura própria, darei notícias, pois agora ainda é prematuro...
    Braça
    Djack

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  4. Muito agradecido, Djack.
    Abraço

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  5. Entao Dai os meus dois comentarios sobre este artigo do Leao desapareceram?!!!Penso ser uma brincadeira das novas tecnologias, porque nao acredito que numa semana de comunicaçao a comunicaçao fique "descalça".

    Al Binda

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  6. Acho que te confundiste e fizeste o comentário noutro local. Nada foi apagado. Tenta aqui:
    http://daivarela.blogspot.com/2012/06/universidade-lusofona-em-sao-vicente.html 

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  7. Tens razao Dai, mea culpa! 

    O post tem pois razao de estar é aqui: Ja li o retrato negro que Leao Lopes faz do ensino duma maneira geral em CABO VERDE e concretamente nas vossas UnIVERSIDADES que ficaram "descalças", quer dizer produzindo semianalfabetos.Como vês nao sou o unico a criticar a tua geraçao calaceira! Ha também o ALVARENGA;Entao, o que "é que vais investigar em matérias de artes e multimédia sobre o homem cultural ou biologico caboverdiano? O que é que vais trazer de original que a gente ja nao saiba?!O proprio Leao escreveu uma boa Bibliografia de Nhô Balta, mas qualquer bom leitor da nossa idade, que tenha sido aluno de Nhô Balta (eu fui, ele nao foi porque era da escola técnica) e tenha vivido o tempo de chumbo totalitario de 74/75, nao encontra nada de original no livro. Mas para a camada jovem e para a média dos caboverdianos é um bom trabalho.Mas repito e tu o que "é que vais investigar de original no mundo da comunicaçao crioula, da cultura crioula? O que é que podes dizer de mais original que os claridosos e as outra geraçoes culturais ja nao disseram?!Sim, eu sei que sou céptico! Mas a verdade é que todos os dias, os LEOES, ALVARENGAS e outros vao denunciando males da terra que estou a denunciar ha anos na NetCrioula.PS Reagi igualmente na entrevista do Dr Nhélas professor de comunicaçao fugido da profissao de jornalista. Al Binda

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