[Desafio Criativo Nº4] - Um adeus na Suíça!! | Dai Varela

1 de maio de 2012

[Desafio Criativo Nº4] - Um adeus na Suíça!!

- Três dias? Só três dias. Que brincadeira é essa doutor? 
- É isso mesmo Vanda - o médico respondeu. Infelizmente os exames são claros. Mandei-te repeti-las para que não restassem dúvidas. Você só tem, no máximo três dias de vida. Daqui a três dias o ar lhe faltará, a visão escurecerá e darás o último suspiro. 

Vanda, desesperada, abriu a porta e correu intempestivamente, sem ver a quem nem ninguém. Quando deu por si, Vanda estava à beira de um precipício e pensou: porquê esperar até que chegue esse dia. Vou colocar a um ponto final aqui e agora, vou poupar mais sofrimentos. Ninguém precisa saber disso. Esse será o melhor caminho. 

Vanda que tinha uma vida muito triste: a mãe era uma prostituta que tinha cinco filhos, cada um com um homem diferente. O pai foi preso quando ela tinha cinco anos, acusado de violar sexualmente muitos menores, sua filha inclusive. Ela era a filha mais velha, cuidava dos irmãos com primor. Não teve uma infância normal, pois tinha de cuidar dos irmãos. O pouco que a mãe conseguia na prostituição gastava com bebidas, com drogas, alguns o pai do seu último filho retirava a tapas e pontapés. Vanda foi para a rua muito cedo, mas prometeu a si própria nunca se prostituir nem por um milhão. 

Quando tinha dezasseis anos viu-se obrigada a trabalhar numa casa nocturna como dançarina, pois lá havia muito dinheiro. Hoje, com 23 anos, e com apenas três dias de vida, no precipício pensou: meus irmãos já estão todos crescidos e a trabalhar. Não precisam mais de mim. Posso ir à vontade. Assim que fechou os olhos para se jogar, alguém tocou-a. Vanda despertou. Viu uma criança ao pé dela. Essa olhou-a com um olhar ternurento, como se soubesse aquilo que ela estava prestes a fazer. Nesse momento resolveu passar os três dias que a restava fazendo aquilo que mais desejara na vida. Ver a neve pela primeira vez. 

Em pequena quando viu a neve na televisão, imaginava como seria sentir o manto branco. Gostaria de se arrepiar com aquele frio. Dormir em baixo dum manto quente com uma pessoa especial. Com o dinheiro que conseguiu juntar em todos os anos de trabalho, Vanda correu para casa, chamou os irmãos e disse-lhes que era chegada a hora de realizar um sonho a muito acalentado e que dali a três dias iria telefonar-lhes. Vanda arrumou a mala e seguiu rumo a Suíça. Pensava ela ironicamente: haveria lugar mais belo e romântico para se morrer? 

No aeroporto, Vanda conheceu um jovem muito simpático e bonito, trocou breves palavras com ele e seguiu viagem. Três dias é pouco tempo para se apaixonar. Já na Suíça, Vanda não quis perder tempo, jogou as malas em cima da cama do hotel e foi para a rua, sentir a neve na sua pele. Deitada na neve a fazer um anjo, eis que Vanda sente uma mão a lhe tocar. Não queria acreditar, era o rapaz simpático do aeroporto. Ficaram ali os dois deitados na neve, sem falar nada, apenas a sentir a neve a tocar as suas peles e a respiração. 

Parecia ali ter-se formado um amor, um amor verdadeiro. Vanda não queria aceitar, pois o com o pouco tempo que tinha, não queria deixar mais uma pessoa para sofrer quando morresse. Dois dias se passaram, e Vanda e o seu jovem simpático passearam sempre juntos, de mãos dadas, muito apaixonados, era inegável, mas Vanda nunca deixara que acontecesse algo de mais. A noite caiu, e Vanda nem se deu conta que o tempo se escasseava, pois estava a viver um dos momentos mais lindos de sua vida. A noite, depois de alguns copos de vinho no quarto de hotel, finalmente ela rendeu-se aos encantos do jovem. Este começou a beijá-la lentamente nos ombros, desabotoou-lhe a blusa, correu a mão fria, Vanda arrepiou-se e semicerrou os olhos, e a magia aconteceu. 

No dia seguinte, ao acordar, Vanda acordou com um sorriso nos lábios nunca antes visto. Estava radiante, mas de repente um baque. Vanda começou a passar mal. Nisso lembrou-se das palavras do seu médico Carlos Santos “Você só tem, no máximo três dias de vida”. Um choro desesperador tomou conta de Vanda. O jovem suíço não percebia nada. Vanda contou-lhe o sucedido. Então o seu amante disse-lhe que iriam procurar os melhores médicos para reverter a situação. Vanda acalmou-se e disse: “Não há tempo meu amor. A vida achou que chegou a minha hora e eu aceito-a de bom grado. Não tenho mais medo. Esses foram os melhores dias da minha vida. Amei-te intensamente durante esses dias que passamos juntos, e só por isso já valeu ter passado por esta vida. Agora passa-me o telefone que preciso me despedir dos meus irmãos”. 


Vanda telefonou aos seus manos, contou-lhes calmamente a situação. Estes começaram a chorar, mas Vanda acalmou-os. 
– Não chorem meus irmãos. Vocês hoje são crescidos e entendem as coisas da vida. A minha vida termina aqui, mas a vossa continua. Sei que vos deixo bem, agora preciso ir. Adeus. 

E com um sorriso nos lábios, Vanda fechou os olhos e o jovem ouviu o seu último suspiro.


OBS: este texto é da autoria de  Carla Gonçalves  e faz parte do Concurso de Escrita Criativa


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