[Desafio Criativo Nº4] - Se eu pudesse…. | Dai Varela

1 de maio de 2012

[Desafio Criativo Nº4] - Se eu pudesse….

A contagem já está chegando ao fim e o sentimento de realização é tudo o que guardo dentro de mim. Ainda lembro quando sai do consultório cheio de lágrimas nos olhos pela notícia que tinha recebido. O médico tinha me dito que somente teria mais três dias para viver. Explica-me como é que alguém tão novo recebe uma notícia do tipo. 

Ao sair do consultório do doutor Carlos eu não sabia o que fazer. Ao andar na rua envolto em lágrimas passando nas pessoas vi uma indiferença em relação a minha pessoa. Mas eu nem preocupava porque o número três tornou meu pesadelo. Por onde que eu olhava via esse numero como só para me lembrar de quanto tempo me restava. Ao entrar em minha casa sem ninguém para me receber senti sozinho como nunca tinha sentido antes. 

Uma pequena retrospecção me lembrei o porque da minha solidão. O que mas me deixou triste neste momento foi que eu tinha colocado de parte as pessoas que mais se preocupavam comigo, a minha família. 

Fui egoísta, egocêntrico que preocupei mas em mim do que qualquer outra coisa. Mudei para a cidade para ficar sozinho e tentar realizar os meus sonhos. Fui vil, carrasco, oportuno e muitas vezes sádico por poder. Disposto a triunfar custa o custar, custou-me muitas coisas. Amigos não tenho, familiares ainda não lembro. 

Mas em três dias não quero ser o miserável de sempre, quero concertar o que eu estraguei. Por isso planeei como compensar todas as perdas de uma vida em três dias. A resposta era simples fazer o que tinha para ser feito há muito tempo e limpar a consciência e deixar a família em paz. 

Mas vi que para chegar lá tinha um longo caminho para fazer. Era corrigir todos que de alguma maneira tinha prejudicado e negado algo. A primeira porta a bater foi da vizinha ao lado. “Desculpa”, foi a única coisa que eu consegui dizer. E ela com os olhos fixos em mim disse, “eu sei que não eras mau pessoa toda essa fortaleza que tens mas no fundo és um amor de pessoa só deves dar espaço para que as outras possam ver o que ´s verdadeiramente”. Estas palavras fizeram com que lágrimas viessem a minha face. Só voltei e disse, “não tenho tempo”, e ela com a voz doce, “há tempo, sempre a tempo para fazer o certo”. 

As palavras me disseram que tinha que fazer em três dias o que não fiz numa vida, ajudar os que neguei quando estava na posição de ajudar. Quando sentimos que estamos perdendo tudo pelo que lutamos que damos conta de o quão temos para melhorar e que somos pobres de entendendimento e sentimento. E quando a vida esta no fim que podemos criar o discernimento e querer fazer tudo certo, mas o tempo da provação terminou e não há nada mais que poderemos fazer. 

Saí andei e fui procurar os meus pais. Desde que eu saí de casa nunca os tinha visto e fui lá. Com um coração palpitante não sabia o que fazer. De longe observei eles na varanda pensando em mil e uma coisas. Pensei em voltar para trás e vi uma árvore ao pé da nossa casa. Era onde costumava brincar com meus irmãos quando criança e vi. E vi que ainda estava forte porque foi cuidada durante todo o tempo pela minha mãe. E senti que necessitava de tratamento pelo sentimento de rebeldia que criei na juventude. 

Decidi aproximar. Meu pai e minha mãe ao me verem levantaram e com os olhos fitos em mim que com passos pequenos e demorados fui me aproximando. Ao chegar perto deles com olhos no chão disse, -“poderia dizer mil e uma coisa e tentar explicar minhas atitudes, minha vaidade procurando de uma forma correcta parecer que agi correcto. Mas não só vim aqui para dizer isto, desculpem-me e sei que errei”. 

Com os olhos banhados em lágrimas vi os braços do meus pais se abrirem e não resisti. Senti saudades do conforto e da segurança daqueles braços, senti vivo e como se agora fizesse sentido. Ninguém ousou dizer nada para não estragar o momento. Foi algo intenso e duradouro. Meu pai abriu a boca e disse, “nos que te pedimos desculpa”. 

Entramos falamos e dei as más notícias. Mas eles já sabiam porque o médico tinha procurado para informa-los a fim de fornecer suporte emocional. 

Mas o maior teria sido se nunca aqueles segundo que tinha ocorridos momentos atrás não tivesse acontecido. Tudo fez sentido. 

Minha preocupação seria como ocupar o tempo restante. Meu pai como um homem ponderado me perguntou como eu queria ser lembrado. Eu quero ser lembrado por quem eu sou e pelas coisas que fiz. Mas a verdade que serei lembrado como alcancei as coisas, passando em cima de muitos. A tristeza banhou meu rosto pelas lágrimas que descia. 

Mas enquanto a vida a lida, por isso tentei corrigir os meus erros. Voltei para o trabalho no dia seguinte com um sorriso no rosto, dei bom dia, entrei no meu escritório deixei a porta aberta. Todos curiosos estavam vendo o que estava fazendo lá dentro. 

Pequei num papel e escrevei na porta. “Tenham sucessos vocês são boas pessoas e por isso não deixem que ninguém tira de vocês a alegria de ser quem vocês são, aproveitam a vida e vivem da melhor forma vocês serão lembrado pelo que são e não pelo que tem, por isso peço desculpa”. Não disse nada sobre minha condição de saúde. 

Todos ainda surpresos, atónitos mas no fundo contentes. Um a um durante o dia pedi desculpa por qualquer coisa, por ter gritado com ele, não apoiar uma ideia, não dar luar na fila, qualquer coisa que eu achei que não foi correcto pedi desculpas. 

E durante todo o dia tempo iria ajudar quem precisasse e reconciliasse com todos que relacionei errado. 

Quando mais novo tracei um objectivo e tentei segui-lo. Não me preocupei com as regras desde que eu achasse certo. Afastei tudo e todos de mim. Senti-me só e miserável. Mas algumas na vida abre-nos os olhos e podemos ver o que realmente e quem estamos tentando ser. Eu estava tentando passar por alguém que eu não sou. Por isso decidi nesses últimos dias fazer o bem sem saber a quem. Meus passos nas ruas foram devagar de forma que eu pudesse enxergar onde minha ajuda é necessário. Por isso não percam com rancor ou mesquinhice, sejam vocês sempre mas com amor. Como eu passeai maior tempo preocupado comigo que esqueci dos outros mas vi que nunca é tarde para remediar as coisas. Hoje estou aqui nos últimos segundo para dizer que apenas……… 


OBS: este texto é da autoria de  Nany Delgado  e faz parte do Concurso de Escrita Criativa

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