[Desafio Criativo Nº4] - Quando fui morrer | Dai Varela

1 de maio de 2012

[Desafio Criativo Nº4] - Quando fui morrer

Pensando bem… todos os dias bem podiam ser o último dia das nossas vidas. Hoje, analisando os dias que passei, os desperdícios que fiz… os erros cometidos, assuntos mal resolvidos, dá para entender que os dia seriam melhor aproveitados… 

Naquela quinta feira à noite queria que aquela clínica não existisse, que aquela conversa com o médico tivesse sido apenas um sonho mau. Mas hoje, vendo tudo à distância e vendo que era aquela a hora certa para que as coisas acontecessem, era aquela a hora que eu mesmo tinha escolhido. 

Na sexta-feira de manhã parti em viagem para aproveitar a minha última sexta. A viagem de barco durava pouco mas naquele dia parecia que nunca chegávamos a Santo Antão. Visitei alguns parentes com a desculpa de que tinha viajado para descansar do cansaço do trabalho. Perto da casa da minha tia-avó Antónia os tanques brilhavam de tanto que atiçavam-me. Aproveitei a tarde para refrescar-me e pensar em toda ou quase toda a vida que tinha levado nestes últimos trinta e dois anos. 

Refiz todo o caminho desta existência e não sei se teria conseguido fazê-lo se não estivesse marcada. 

À noite escrevi dezenas de poemas retractando todo o sentimento de alívio e preocupação que pairava em cima da minha alma. Sabia que ainda poderia ter coisas a fazer, a refazer, a concertar… ou simplesmente coisas para pensar. 

Deixei alguns poemas em Santo Antão, despedi-me como se fosse voltar à tarde e parti deixando para trás uma vida… 

Em Mindelo apressei-me a condensar minha vida à dos meus familiares e amigos mais chegados… chamei-os para um jantar em minha casa e o encontro durou até domingo de manhã… 

Antes de chegarem os amigos arrumei tudo aquilo que parecia-me fora do lugar, coloquei alguma roupa para lavar… escolhi a roupa que mais gostava para receber aqueles que tinha escolhido para estarem comigo. Escolhi o sapato mais confortável, o perfume mais acolhedor, fiz o mais simples penteado que um dia fiz. Coloquei o meu sorriso mais sincero no rosto… 

Fartamos de rir e conversar, colocar todos os assuntos em dia, acertar encontros aos quais eu não compareceria mas que me deixaram satisfeita com as pessoas que me rodearam durante esta vida e que voltarão a fazer parte de muitas outras… 

Depois de arrumar tudo todos partiram e fiquei eu com minhas coisas, com minha casa e a ideia de estar de partida mas sem remorso algum. Um dia o coração teria de parar… 

Adormeci sem notar… 

Adormeci… 

Hoje sei que não voltei a acordar… 

Mas sei que não sufoquei a vida… sei que apenas adormeci o corpo para voltar a acordar um outro numa outra época… 


OBS: este texto é da autoria de  Anete Carvalho  e faz parte do Concurso de Escrita Criativa


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