[Desafio Criativo Nº2] - A Vingança | Dai Varela

5 de abril de 2012

[Desafio Criativo Nº2] - A Vingança

Regressei depois de uma bela temporada na Holanda ou para quem preferir da Cadeia da Ribeirinha em São Vicente. Não perguntem como fui lá parar pois ainda eu me pergunto como é que isto foi acontecer. Ou melhor, posso dizer que fui parar ali por puro engano, ou seja, sou inocente. 

Tudo começou numa manhã quente de Agosto, onde tive de levar a minha mãe para o hospital pois ela estava mal disposta. De repente o telefone toca e adivinhem quem era. O encosto do meu chefe telefonando frustrado para eu ir trabalhar. Ele estava aos berros por causa de um SMS que lhe tinha enviado a dizer o que se tinha passado e que voltaria ao trabalho no dia seguinte. Nem me importei com ele e continuei meu dia cuidando da minha mãe. 

No dia seguinte acordei bem-disposta, tomei banho, pequeno-almoço e fui trabalhar. Como é meu hábito cumprimentei todos mas reparei que olhavam para mim assustados. Não fiquei preocupada. Talvez poderia ter acordada mais bonita do que o costume 

- Bom dia chefe – disse de bom-humor. 

- Bom dia, como foi a tua folga ontem? 

- Hum…desculpa chefe mas de que folga o Sr. está propriamente a fazer referência? 

- Da que resolveste tomar ontem e agora estás despedida por justa causa, agora podes ir, depositarei o teu ordenado na tua conta – disse sem importar-se com meus argumentos. 

E assim fui despedida sem conseguir explicar nada. Enfim, foi o pior dia da minha vida. Mal conseguia respirar e quando cheguei em casa lavada em lágrimas só estava movida pela ira. Pensava nos planos mais diabólicos que podiam existir para vingar-me. Fui logo à procura da minha amiga Escateflina, uma moça alta, forte, morena e muito malvada. Ela era a única pessoa em quem podia confiar meu plano. Sabia que ela não iria criticar-me e o mais importante iria me ajudar a concretizá-lo. 

Escateflina me mostrara que para matar alguém é preciso ser uma pessoa bastante fria, calculista e sobretudo corajosa. Logo no início ela mostrou alguma resistência pois veio dar uma de moralista, dizendo que aquelas coisas não devem ser feitas, mas quando falei-lhe que sabia do assassinato que ela cometeu logo baixou a crista e prometeu me ajudar a matar o meu chefe sem deixar rastos. 

Foi preciso criarmos dois planos: A e B. O plano A consistia em contratar um bando de homens para furar os pneus do carro do meu chefe e por conseguinte ele teria de ir a casa a pé, “drinká-lo”, e depois de o amarrar deita-lo no fundo do mar para ser comida de peixe. O segundo plano consistia em convidá-lo para tomar uns copos, envenená-lo e depois abandonar o corpo. Um desses planos tinha que dar certo forçosamente. Combiná-mos colocar o plano em acção para o dia 7 de Abril. 

Até este dia chegar foi uma aflição. Tive pesadelos que tinha sido presa, exilada, apedrejada até a morte, mas o certo que já tinha tudo planeado e não iria mudar de ideia. Chegado o dia eu e Escateflina combinamos que enquanto furávamos os pneus do carro do desgraçado, os homens preparavam para enche-lo de porrada e depois amarrá-lo e deitá-lo no mar. A única coisa que não esperava-mos é que ele tivesse tido aulas de defesa pessoal e conseguisse manobrar os caras a ponto de eles fugirem. Quando recebi a notícia que o salafrário tinha escapado fiquei horrorizada e entrei em choque totalmente paralisada pelo fracasso que tinha sido meu plano. 

Levantei, sacudi a poeira e mais forte que nunca resolvi que iria realizar o plano B sem ajuda de ninguém. Marquei um encontro pessoal com ele. Nada que o charme de mulher não consiga fazer. O motivo iria ser reconciliação mas na hora iria surpreendê-lo com algo a mais na sua bebida. 

Chegado o dia coloquei um vestido bastante sexy, pronto para levá-lo no papo e acabar com a festa dele. Cheguei e não tive muito trabalho e até fiquei assustada pois foi mais simples do que pensei. Ele ficou deslumbrado com a minha presença mal sentou. Convidou-me para um drink. Quando os copos vieram pedi-lhe que fosse a porta pois parecia que tinha alguém batendo. Ao dirigir-se à porta coloquei veneno no copo dele e sem perceber bebeu tudo, tudo, mais tudinho até a última gota. Eu estava um pouco nervosa pois ele bebia aquilo com tanta vontade até parecia que foi a melhor bebida que ele tinha provado durante toda a sua vida. Mas de repente ele pimba no chão. Caiu durinho e o seu rosto era como uma folha branca de papel. 

Saí rápido dali e fui para casa. Mas chegando em casa tinha-me arrependido. Afinal de contas tinha matado um homem e era uma criminosa. Mas logo pensei que gostei de ter matado aquele desgraçado então fui tentar dormir. Ao encostar a cabeça no travesseiro lembrei-me que tinha deixado a minha bolsa no local do crime. E agora? Daqui a pouco a polícia bateria na minha porta. E eu que não tinha como sair do país… Fechei as portas e aguardei. 

Noutro dia todo mundo já sabia do ocorrido e eu fingi que estava surpresa com a noticia mas não adiantou de nada. De repente alguém bateu e era a polícia perguntando se conhecia aquela bolsa. E é claro que respondi que não fazia ideia do que se tratava. Mas ele deu o cheque mate: puxou da carteira o meu B.I e não tive outra saída a não ser confessar o homicídio. 


OBS: este texto é da autoria de Stephanie da Luz e faz parte do Concurso de Escrita Criativa

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