Dar vivas ao Benfica e ao Porto e "cagar e andar" para Cabo Verde | Dai Varela

2 de março de 2012

Dar vivas ao Benfica e ao Porto e "cagar e andar" para Cabo Verde


A Selecção Nacional de Futebol goleou a sua congénere do Madagáscar por 4 bolas sem resposta, em jogo da segunda fase de qualificação para a CAN "África do Sul 2013", disputado esta quarta-feira em Antananarivo. O meu pessoal de Facebook não esteve nem aí para o facto de nossa equipa ter viajado sem acompanhamento jornalístico e termos ficado a saber o resultado durante o jogo porque havia alguém da outra selecção que quando podia respondia ao telemóvel.

Joga-se uma partida entre duas equipas portuguesas e o crioulo usa seu tempo e criatividade para criar frases e imagens de apoio ou gozação e mostrar todo seu orgulho em ser um ferrenho apoiante de equipas estrangeiras.


Senhores: 

Eu saúdo vocês, aqui presentes nas beiras do Rio James, no ano de 1712 do nosso Senhor. Primeiro, devo agradecer a vocês, senhores da colónia da Virgínia, por me trazerem aqui. 

Estou aqui para ajudá-los a resolver alguns dos seus problemas com escravos.
O convite de vocês chegou até a mim, lá na minha modesta plantação nas Índias do Oeste onde experimentei alguns mais novos, e outros ainda velhos, métodos de controle de escravos. A Antiga Roma nos invejaria se o meu programa fosse implementado. 

Assim que o nosso navio passou ao sul do Rio James, nome do nosso ilustre Rei, eu vi o suficiente para saber que o problema de vocês não é único. Enquanto Roma usava cordas e madeira para crucificar grande número de corpos humanos pelas velhas estradas, vocês aqui usam as árvores e cordas. Eu vi um corpo de um escravo morto balançando em um galho de árvore a algumas milhas daqui. 

Vocês não estão só perdendo quantidades valiosas nesses enforcamentos, estão tendo também levantes, escravos fugindo, suas colheitas são deixadas no campo tempo demais para um lucro máximo, vocês sofrem incêndios ocasionais, seus animais são mortos. Senhores! Vocês conhecem seus problemas; eu não estou aqui para enumerá-los, mas para ajudar a resolvê-los! 

Tenho comigo um método de controlo de escravos negro. Eu garanto que se implementar da maneira certa, controlará os escravos no mínimo durante 300 anos. Meu método é simples e todos os membros da família e empregados brancos podem usá-lo. 

Eu selecciono um número de diferenças existentes entre os escravos; eu pego essas diferenças e as faço ficarem maiores, exagero-as. Então eu uso o medo, a desconfiança, a inveja, para controlá-los. Eu usei esse método na minha fazenda e funcionou; não somente lá mas em todo o Sul. 

Pegue uma pequena e simples lista de diferenças e pense sobre elas. Na primeira linha da minha lista está “Idade”, mas isso só porque começa com a letra “A”. A segunda linha, coloquei “Cor” ou “Nuances”. Há ainda, “inteligência”, “tamanho”, “sexo”, “tamanho da plantação”, “status da plantação”, “atitude do dono”, “se mora no vale ou no morro”, “Leste ou Oeste”, “norte ou sul”, se tem “cabelo liso ou crespo”, se é “alto ou baixo”. 

Agora que tem uma lista de diferenças, eu darei umas instruções, mas antes, eu devo assegurar que a desconfiança é mais forte do que a confiança e que a inveja é mais forte do que a adulação, o respeito e a admiração. 

O escravo negro, após receber esse endoutrinamento ou lavagem cerebral, perpetuará ele mesmo, e desenvolverá esses sentimentos, que influenciarão seu comportamento durante centenas, até milhares de anos, sem que precisemos voltar a intervir. A sua submissão à nós e à nossa civilização será não somente total, mas também profunda e durável. 

Não se esqueçam que vocês devem colocar o velho negro contra o jovem negro. E o jovem negro contra o velho negro. Vocês devem jogar o negro de pele escura contra o de pele clara. E o de pele clara contra o de pele escura. O homem negro contra a mulher negra. É necessário que os escravos confiem e dependam de NÓS. Eles devem amar, respeitar e confiar somente em nós. 

Senhores, essas dicas são as chaves para controlá-los, usem-nas. Façam com que as suas esposas, filhos e empregados brancos também as utilizem. Nunca percam uma oportunidade. 

Meu plano é garantido e a boa coisa nisso é que se utilizado intensamente durante um ano os escravos por eles mesmos acentuarão ainda mais essas oposições e nunca mais terão confiança em si mesmos, o que garantirá uma dominação quase eterna sobre eles.
Obrigado, senhores. 

William Lynch - Virginia, 1712 


  1. Andava a comentar isso enquanto estava no táxi a caminho de um show de música cabo-verdiana onde alguém me disse "ah! não irão aparecer muitas pessoas porque hoje tem o clássico Benfica e Porto" e respondi-lhe, nem que esteja sozinha vou na mesma. Claro que muitos outros apareceram.

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  2. Estamos, julgo eu, perante um problema de co-habitação cultural que terá que ser gerido com muito bom senso  e, sobretudo, sem sentimentos de talibãnismo...O homem - e a mulher, claro - é, cada vez mais um ser plural, que não tem nada a aprender com o sr.Lunch cujo nome, aliás, está ligado ao mais execrável sistema de justiça popular só digno de uma mentalidade nazi...A nossa aldeia-global é o nosso futuro!

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  3. Esta co-habitação cultural está viciada quando damos mais importância ao "outro" do que aquele que é nosso. 
    Vamos globalizar sim mas mantendo uma acção localizada. Até porque a globalização acarreta a perda das particularidades e defender o que é nosso não é atacar os "outros"

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  4. Em Cabo Verde as coisas devem ser agendadas em função dos clássicos em Portugal. Que tristeza...

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  5. Sou portista desde sempre. Confesso que fui "mais" portista em Cabo Verde do que em Portugal, mais concretamente no Porto. Trata-se de co-habitação cultural mas acho que exageramos um pouco em Cabo Verde. Fala um macaco de rabo pelado :)

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  6. Pensei que ao estares mais perto do "teu" Porto serias mais ferrenho. Algum choque cultural?

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  7. Dai não foi choque cultural mas sim desilusão cultural... ou seja, para quê estar a torcer muito quando na verdade não sou aquele irmão africano que se propalam por aí?

    Foi bom, ajudou-me a valorizar o que é meu. Com isso não quero pôr em causa a boa relação cultural e de amizade entre Pt e CV. So quero dizer que podíamos ser "mais2 irmãos ;)

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  8. Bem que eu costumo dizer que é a discordar que a gente se entende...
    Para mim, co-habitação cultural é um estado de respeito mútuo, sem bitolas nem medidas de melhor ou pior...Cada coisa é o que é e
    não está nas nossas mãos alterar o direito à escolha, o livre albítrio que é, em si mesmo, sinónimo de libertdade, confortavelmente apoiada pela filosofia pura.
    Globalização não é sistematização ou padronização cultural...É mais um sentimento de interdependencia natural com raízes mais económicas do que humanistas. Aliás, costuma hoje dizer-se que são as nossas diferenças que nos unem e devíam, por isso, cimentar a maior igualdade.
    Quanto às ideossincrasias, elas são a marca registada dos povos e nada nem ninguém deveria ter o poder ou a vontade de as subverter.!
    E, por fim, um Benfica/Porto é, apenas, uma vez por ano!!!
    P.S.-Eu sou leão...

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  9. É verdade Dai, mas não se fica apenas pelos clássicos, infelizmente. Ainda ontem fiz um comentário sobre isto e fiquei a saber que sou Nacionalista. Digo que sou mesmo, mas no bom sentido, nada que ver com purismo ou xenofobia. 
    Ainda bem que fizeste referência a isso, porque é mesmo necessário chamar a atenção para essas coisas. Nem vou entrar em mais detalhe sobre isso...

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  10. Ou dos horários das novelas brasileiras... 

    Como se contraria isso? Com trabalho. Nunca alterei um ensaio e nem por isso nenhum actor ou actriz faltou ao ensaio por causa de novelas e futebol. Muito menos os horários de apresentação das peças. 

    É uma questão cultural e, fundamentalmente, de acesso à informação. Temos acesso a n canais que, nas vésperas de um clássico português não falam doutra coisa. Se nem a nossa comunicação social dá o devido destaque a um jogo da selecção, o que esperar da reacção das pessoas?Nunca mais me esqueci de uma noite em que o Sporting de Portugal foi campeão no mesmo dia em que a Selecção de Cabo Verde venceu a Taça Amílcar Cabral. Nem é preciso dizer de que cor eram as bandeiras e os cachecóis nas ruas do Mindelo...

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  11. Sempre que dizemos estas coisas aparece alguém a querer demonstrar que estamos errados por querer defender aquilo que é nosso. Nacionalista? Claro que sim! Isto não significa atacar "o outro" mas reconhecer que muita coisa está errada quando não temos orgulho naquilo que é nosso.

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  12. É uma tristeza... Acho que a educação deveria começar por cima. Quebrar a corrente daqueles que mandam para depois fazer o mesmo no povo.

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  13. Ésim, é com a globalozacão que se vem perdendo, perdendo tudo do é outentico e verdadeiro em nome em principio de do progresso e depois da glabalizacão. Queremos e po isso tronamos egoistas e daí vem quereres que nada tem à ver com sobrevivencia dos povos.

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  14. Não entendo o texto a insinuar "Uncle Tom". Parece que tens de mudar o "teu" pessoal de facebook que não torce por Cabo Verde talvez quebrar as “correntes”, ilumina-los ou simplesmente podias abster de fazer de um simples jogo de futebol no exemplo de como somos En(a)culturados, uma manifestação acalorada do purista africano contra os neocolonizados de vermelho e azul.
    O cabo verdiano sempre vai viver um clássico de futebol como se tivesse um irmão ai a jogar…constatei isso na sexta-feira passada quando 4 gerações esgrimiam argumentos com a mesma paixão. Não faz de ninguém menos cabo-verdiano. Ganhou a selecção, muito bom…pergunto quantos verdadeiros amantes do desporto Rei trocavam um Real Madrid – Barcelona por um jogo da selecção de Cabo Verde, até os jogadores da selecção se pudessem mudavam a hora do jogo para poderem apreciar o jogo.
    Quando vier o mundial vais ter muitos a torcer, (com direito a murros na mesa e lágrimas), por equipas tão diferentes como Brasil, Gana, Portugal, Argentina ou até Alemanha. Considerar Futebol um exemplo de falta de “patriotismo” é não ter a percepção da irracionalidade que é ser adepto de futebol.  

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  15. Há um texto a insultar "Uncle Tom"? Pensei que fosse um texto para conhecer melhor um pouco da nossa História (talvez se parece um insulto é porque aquilo que foi feito foi um insulto).
    Ainda bem que reconheces que este é somente um exemplo daquilo que nós costumamos demonstrar. Não é só o clássico que vivemos desta forma, valorizando mais o que vem de fora.

    Que venham mais jogos. Sabemos que a irracionalidade é grande assim como a corrente mas não será por isso que iremos calar
    Conto contigo, Asantos

    Abraço
     

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  16. A grande verdade é que o povo caboverdiano é um povo alienado, para dizer no mínimo... A maioria vive torcendo para Benfica Porto, e oa c*ralho a 4 em vez de fazer algo útil e valioso nas suas vidas. É ridículo isso a ponto de eles brigarem por seus times e estarem até dispostos a matar e morrer por ele. Já me perguntaram de que time eu era, eu respondi nenhum; a pessoa que me perguntou quase não acreditou. Ou seja, o futebol (europeu) virou uma pseudo-religião que serve para fazer lavagem cerebral na "massa", virou a razão de viver de milhões. Se a sua razão de viver, de levantar de cama e buscar a felicidade, for a vitória do seu time, meu amigo você é uma das criaturas mais pobres que existe. Deixo um pequeno poema de minha autoria que creio cabe nesse momento:

    Ami nka sa
    planeja nha vida ku base na vitória, derrota e caminhada di niguém!

     

    Nsta vive
    nha vive ku base na nhas vitória, nhas derrota e nha caminhada!

     

    Es ta
    purguntal mi é di ki timi, mi é di ki riligion

     

    Mi nta
    purguntas, sé si kes kre vivi, Força la, kamba na multidon

     

    Ó ki bu ten
    1 kusa úniku na bo, kes ta tchoma di dom, cada segundo fazel mas forti

     

    Ko perdi
    tempo ku tempo perdido de otu alguém, ganha tempo, fazi bu sorti

     

    Ten kusas ki
    bali pena apoia, ki bali pena luta pa el

     

    I é es ki ta
    fazenu ser mas forti, ser humano ki nu é

     

    Nton kó
    puguntan, kó julgan, abri odjo bu djobi pa um segundo

     

    Pamo mi nha
    religion é amor e nha pátria é mundo!

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  17. Ilidio Ramos Araújo Araújo7 de março de 2012 às 13:50

    MADEIRENSE FF C

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  18. É verdade tudo que dissestes, sou caboverdiano e resido na inglaterra e só tenho noticias do que vejo na internet ou aqui na face, e nem sabia que CV ia jogar, é muito triste ver-mos essa situaçao e nossas tvs e governo ficam aqui a gastar em porcarias.

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  19. Pois meu caro amigo ainda bem que somos muito poucos mas estamos atentos.
    O que me preocupa como é possivel um País ter sucesso e progredir, com liders ensinando desde as crianças nas escolas, que discutem dialogam com um afinco interessante sobre o que não tem nada com eles, e aquilo que lhes pertence, ignoram-lhe total.
     Pois o Sr. Louis Farrahkan disse que se o Sr. William Lynch, fosse vivo hoje, ele teria grande orgulho do trabalho que ele fez.
    Coitados dos nossos.....................

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