Acontecimentos versus Políticas | Dai Varela

8 de janeiro de 2012

Acontecimentos versus Políticas

OBS: esta é minha tradução livre da versão espanhola do texto fotocopiado sobre Teoria da Representação da Imagem.

Segundo o slogan da RTL: “A informação é como o café: quando quente e forte, é boa”. Para ajustar esta crença, os media reciclam o mundo como uma sucessão de acontecimentos, importando que cada acontecimento seja suficientemente forte para aparecer nos títulos, mas que ceda o seu lugar antes de esfriar-se. A grelha de acontecimentos converteu-se na única maneira de abordar o mundo.

O público que cobrou identidade (e que rapidamente foi desmantelado) com o “acontecimento em vista do público” é uma congregação de espectadores, não de actores. A “pertença” que surge do facto de olhar o mesmo com o mesmo enfoque não exige outro compromisso que não o da atenção. Os membros da congregação dos espectadores não têm por que seguir o espectáculo de forma activa. Os acontecimentos servem para demonstrar que a “cena pública” é para olhar e desfrutar, não para actuar.

Dado que, esta comunidade é de natureza efémera e que o sentido de pertença que propiciam é muito débil, quando desaparecem deixam nos seus membros um vazio que exige ser preenchido o quanto antes. Aqui, de novo, a intrínseca mortalidade dos acontecimentos são de grande ajuda: uma vez que se corta em rabanadas episódicas, a vida necessita de um grande número e variedades de acontecimentos capazes de captar a atenção para tapar a falta de lógica e continuidade.

Poderíamos dizer que, em termos de consumidores de acontecimentos, todos sofremos de bulimia e que os acontecimentos são a comida ideal. Os afectados pela bulimia devem desfazer-se rapidamente do que ingeriram para dar lugar à mais comida: os acontecimentos/espectáculos estão feitos à medida deste propósito. Estão pensados para serem consumidos imediatamente e evacuados com a mesma celeridade; para serem engolidos sem serem mastigados e para não serem digeridos nunca. Nem bem chegam à consciência, abandonam-na, muito antes de terem a possibilidade de serem assimilados e de passar assim a fazer parte do organismo consumidor.

Em todos esses aspectos, os acontecimentos se opõem implacavelmente sobre as políticas. As políticas eram as que iriam desempenhar a função integradora que agora foram assumidos pelos acontecimentos/espectáculos. Eram as que davam origem às comunidades formadas por aqueles que compartilhavam uma mentalidade semelhante. Mas faziam-no de modo distinto e seus produtos se diferenciavam de maneira coerente.

A grande pergunta que se coloca ao desafio para a acção política ortodoxa de hoje em dia, não é “o que há para fazer”, mas sim, “quem é capaz de fazê-lo e estaria disposto”. 


Actualmente, a “globalização” não significa mais do que a globalidade de nossas dependências e as instituições políticas herdadas sob o signo da democracia moderna não conseguiram seguir o avanço da economia no espaço global. O resultado é um mundo em que o poder flui no espaço global fora de controlo e do alcance das instituições, enquanto que a política continua seguindo tão localmente como sempre. 


O poder está muito aquém do alcance da política. A crescente brecha entre o poder económico e as agências políticas actuais gera esta espécie de “precariedade” provocando as angústias e traumas que saturam as vidas de eleições, que dificilmente vão retroceder. São essas angústias e traumas que os homens e mulheres de hoje procuram responder com as suas políticas de vida.

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