Jovens empresários desiludidos com São Vicente | Dai Varela

26 de julho de 2011

Jovens empresários desiludidos com São Vicente

Os jovens empreendedores em São Vicente mostram-se desiludidos com as fracas condições que a ilha oferece e muitos deles estão divididos entre ficar ou arrumar as malas para a cidade da Praia. A capital é vista como o único local onde os projectos têm pernas para andar, dado que Mindelo não está preparado para ideias novas de empreendedorismo. 

Jovens Empreendedores de São Vicente
Parece ser cada vez mais difícil aos jovens criarem e manterem empresas em São Vicente. Os jovens operadores entrevistados criticam a ausência de uma mentalidade aberta para o mundo dos negócios como o mindelense tem no mundo da diversão e convivência. Desiludidos, esses jovens ponderam se vale a pena manterem-se numa ilha onde a economia encontra-se estagnada, em resultado de falta de investimento sério e programado, ou partirem à conquista do maior mercado do país, a cidade da Praia. 

Apesar de desalentados, muitos jovens acreditam que é possível triunfar em São Vicente, partindo do princípio que se as oportunidades não existem é preciso e é possível criá-las com criatividade. Enquanto isso não acontece, São Vicente assiste, imperturbável, à fuga dos seus quadros e empresas para a capital do país que é visto como o mercado onde, apesar de tudo, as coisas acontecem e funcionam. 

Os jovens empreendedores ouvidos criticam o “discurso bonito” e defendem no seu lugar medidas de política que assegurem o acesso ao crédito, por exemplo. Como é que um jovem pode avançar com seu empreendimento sem ajuda?, alegam, contrapondo que é preciso mais alguma coisa. E essa coisa é identificada por vários jovens como a “padrinhagem” ou cunha para se conseguir o sucesso no Mindelo, um mercado fechado e pouco dinâmico e em que apenas um bom currículo e alguma experiência não são garantia de muita coisa. 

Isilda Monteiro, 26 anos, Comunicação Social – Publicidade e Propaganda (Brasil), da Empresa: Isysolutions Lda. 

Isilda Monteiro
-Sempre tive o meu projecto próprio e por acreditar nele decidi implementá-lo em São Vicente (SV). Tenho por filosofia que as oportunidades criam-se. Estou desiludida com SV, mas por mais que esteja triste com isso não desisto da minha ilha. Para que um jovem investir em SV é necessário que ele se defina como empreendedor do quê e quem são seus aliados. Agora, se tens muito dinheiro podes investir em SV porque de outra forma nem vale a pena. Não quero dizer com isso que não somos capazes de realizar mas é preciso algo mais. Talvez seja sorte ou talvez seja preciso “padrinhagem” para se triunfar no Mindelo, porque de outra forma fica muito difícil. 








Joel Almeida, 28 anos, Design de Comunicação (Portugal). Empresa: Kebraregras Lda.

Joel Almeida
-A minha empresa tem uma visão global e não é pelo facto de estar em São Vicente que me limito a esta ilha. Temos a mania de dizer que o culpado da nossa situação precária é o Governo ou quem está fora desta ilha, de preferência na Praia, mas o certo é que há pessoas e instituições em SV que têm capacidades financeiras e económicas mas que entram no jogo “já que os outros não fazem, eu também não vou fazer”. Muitos aproveitam-se da actual conjuntura para choramingar, que não há dinheiro em SV. 
O mindelense sempre foi considerado um povo que sabe desenrascar, que sabe dar a volta as dificuldades que nos aparecem pelo caminho. Se esse jogo de cintura pode ser considerado empreendedorismo, então temos muitos empreendedores aqui. Mas, infelizmente, neste momento predomina a descrença e esta descrença encontra-se em maior grau nos jovens, muito por culpa da grande burocracia para se ter acesso aos financiamentos. Por exemplo, a nossa empresa concorreu a um financiamento há quase dois anos mas até agora estamos à espera de uma resposta.


Helga Fonseca, 25 anos, Animação Sócio-cultural (Portugal). Empresa: Isysolutions Lda. 

Helga Fonseca
-As pessoas de SV têm uma mentalidade de “casca de ovo fechado”. O mercado está a declinar e não há poder de comprar e não há uma aposta na inovação. As empresas e instituições dão-se por satisfeitas com o dia-a-dia, não procuram mais-valias e não se preocupam em agradar e fidelizar o cliente, ao contrário daquilo que vimos na Praia. A Isysolutions ainda não recorreu à ADEI porque iniciamos com um capital próprio que nos permitiu manter-nos mas já recorremos à banca e não conseguimos ultrapassar os obstáculos apresentados. Sinto-me frustrada com SV e por mim já estaríamos na capital prestando nossos serviços. Lá o mercado é maior e temos capacidades de colmatar um leque de serviços que estão vazios. Tem sido uma decepção para mim que sempre vi SV como sendo “prá frentex”, mas hoje temos um povo retrógrado, atrasado em termos de negócios. O problema está tanto no público como nos decisores. Neste momento queremos ir para Praia para ganhar bases para depois voltar para nossa ilha.

João Pedro Ramos, 37 anos, Informático (Portugal). Empresa: Imagina Lda.

João Pedro Ramos
-Na área de informática há espaço no mercado de São Vicente e as coisas não têm que estar necessária ou obrigatoriamente na Praia. Pode-se ter um contacto comercial na Praia e trabalhar-se, por exemplo, na criação de páginas na Internet onde quer que se esteja. Aconselharia um jovem a empreender sua empresa em São Vicente sim, porque se a ilha está parada e nós não fizermos nada para criarmos mercado e competências locais, nunca mais sairemos desta apatia e tudo continuará centrado na Praia, e isso não é bom porque provoca um crescimento atrofiado das diversas ilhas. 











Danielton Rocha, 28 anos, Engenharia de Informática (Cabo Verde). Empresa: VirtualSoft Design Lda. 

Danielton Rocha
-Sempre vale a pena um jovem criar uma empresa em SV mesmo com dificuldades. O factor que poderá determinar o sucesso de um empreendimento no Mindelo é a diversificação dos serviços ou produtos oferecidos porque, caso contrário, corre-se o risco da empresa passar por fases em que não faz nada. Para se manter nesse nosso pequeno mercado é importante que um jovem empreendedor consiga dar respostas capacitadas aos poucos clientes sediados na ilha, sem isso fica impossível manter-se no activo. Infelizmente, o nosso sistema é muito pesado, burocrático. Quando um jovem projecta abrir a sua empresa nunca consegue fazê-lo no mês que definiu. Se quisermos que as coisas andem mais rápido temos que ter “padrinhagem” nas instituições ou ter muita força de vontade para atingir nossos fins. Praia tem um mercado mais vasto, sendo a capital, movimenta grande parte da nossa economia. Muitas vezes, os jovens empreendedores são obrigados a estabelecerem-se na capital, não por gostarem, mas porque têm necessidade de estabilizar a sua empresa num mercado com mais produtividade e mais clientes, mas o coração fica aqui, no Mindelo. A nossa empresa não pretende trocar SV por Praia, apesar de sentir que a nossa economia está quase parada. Estamos a lutar para ganhar mais clientes e crescer cada vez mais.




Publicada (também) no Jornal A NAÇÃO



  1. Dai,

    Pelo que vejo a situação não está muito bom la mas há-que acreditarem em SV.

    P.S. Para já, deixo-te uma dica acerca de mim: o Joel é meu amigo e antigo colega cá no Porto, onde fundamos o grupo musical Cibitxi em que ele tocava cavaquinho e guitarra. Pergunta-lhe, ele até ja melodiou um dos meus poemas em batuque. Ele foi ano passado, nao concretizamos alguns projectos onde espero dar continuidades em CV.

    Abc

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  2. mrvadaz, vou falar com o Joel.

    E vamos continuar a acreditar que Mindelo pode dar certo.
    Abc

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  3. Dois factores com grande impacto no desenvolvimento regional e que permite as regiões ganhar competitividade relativamente a outras,são a qualificação dos recursos humanos e o empreendedorismo (criação de empresas).O papel do Estado também conta,mas não explica tudo.É isto que tem acontecido ao Mindelo: investimento público insuficiente,fuga de quadros e baixo taxa de empreendedorismo.Por isso,os jovens empreendedores mindelense têm toda razão nas reclamações que fizeram ao jornal A Nação.Contudo,é preciso dizer que há várias formas de contornar as dificuldades sem ser a deslocalização:através de abertura de sucursais/gabinetes na Praia ou mesmo fazendo acordo de representação com empresas sediadas na Praia.Nada impede uma empresa criada em São Vicente de ter cliente na Praia ou noutras ilhas.Por outro lado,a ADEI ou a AJEC deve oferecer formação aos empreendedores cujo conteúdo vá mais além do que simples plano de gestão.Um jovem empreendedor não precisa apenas de saber fazer um bom plano negócios: precisa,acima de tudo,saber como funciona o mundo dos negócios.

    Surrupiado do Blogue di Nhu Naxu: http://alibemtempu.blogspot.com/2011/07/empreendedorismo-jovens-empresarios.html

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  4. É FRUSTRANTE A SITUÇÃO ACTUAL Q A NOSSA GERAÇÃO VEM ENFRENTANDO.ABANDONADOS E SEM APOIO DAS INSTITUIÇÕES/GOVERNO, A NOSSA JUVENTUDE(E COM MUITA QUALIDADE,COMO SEMPRE)TEM-SE NAUFRAGANDO SEM RUMO E DIREÇÃO. ÁS VEZES ATÉ PENSO Q S.VICENTE NÃO FAZ PARTE DO NOSSO GRANDIOSO PAÍS. EXCELENTE, DAI VARELA...

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  5. 'brigada C.MR.86, é sempre bom mostrar a realidade da nossa ilha

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