Quem faz a Agenda dos Jornais? - Comentário | Dai Varela

8 de janeiro de 2011

Quem faz a Agenda dos Jornais? - Comentário


Comentário ao texto Quem faz a Agenda dos Jornais? de Joaquim Fidalgo (Provedor do Jornal “Público”, Docente da Universidade do Minho). Domingo, 19 de Novembro de 2000

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A primeira nota sobre o texto é de que ela é escrita por uma figura – Provedor – que não existe na realidade da Comunicação Social (CS) em Cabo Verde (ou em qualquer outra área). Esta inexistência desta figura é considerada por Carlos Sá Nogueira, jornalista e investigador em Ciências da Comunicação, como uma tentativa de silenciamento e manipulação da nossa imprensa:

“Atentado À Liberdade De Imprensa E À Democracia”
Vejam, por exemplo, a inércia deste Governo que, deliberadamente, não cria a Entidade Reguladora Para Comunicação Social e figura de provedores para os diversos órgãos de informação, como manobra dilatória que lhe permita manipular à-vontade, o panorama dos media estatais, como de resto tem sido o seu apanágio. Carlos Sá Nogueira - O Liberal Online

Sendo o jornalismo uma profissão sempre exposta à crítica do seu público, o jornalista vê o seu trabalho em permanente análise. As pessoas nunca estão completamente satisfeitas com o trabalho feito e, principalmente, pelo que não foi feito.
Pode-se depreender do texto de Fidalgo que, na sociedade de espectáculo em que vivemos, as notícias têm que ter algum cunho de espectacularidade para merecerem ser incorporados na agenda.

“A informação corresponde àquilo que traz um elemento novo ao conhecimento, àquilo que provoca uma surpresa ou liberta uma incerteza […] se a informação não for introduzida numa tal estrutura não será apreendida como tal: será negada ou esquecida.” Edgar Morin Project, Receptores Selectivos, 1978 in Adriano Rodrigues et al, Comunicação Social e Jornalismo, Lisboa. 1981

O problema com o ingrediente picaresco ou “clownesco” da notícia, citado por Fidalgo, é que corre-se o risco de colidir-se com o Art. 4º da Comunicação Social que fala sobre a responsabilidade social dos meios de comunicação de garantir uma informação isenta, salvaguardando a honra, intimidade e a privacidade das pessoas. Infelizmente, na ânsia de garantir o ratings os meios de comunicação esquecem o Art. 6º (Deveres da CS) – comprovar a veracidade da informação a ser prestada, e noticiam factos não confirmados que podem prejudicar por completo a vida de um indivíduo. Essa luta para “conquistar uma boa posição na grelha de partida da feroz competição que todos os dias os jornais gerem, ao estabelecerem a célebre agenda (…)” pode resultar em consequências desastrosas:

Maddie: Murat recebe pedido de desculpa e 757 mil euros
O primeiro arguido na investigação ao desaparecimento de Madeleine McCann, Robert Murat, vai receber 757 mil euros de jornais britânicos que reconheceram esta quinta-feira terem publicado sobre ele notícias difamatórias e falsas, pelas quais pediram desculpa.IOL Diário

No panorama desportivo caboverdeano, a frase “os órgãos de comunicação vão quase sempre quase todos aos mesmos eventos”, aplica-se como uma luva. É só abrir os jornais, ouvir a rádio e acompanhar a televisão para perceber-se que todos eles estiveram no mesmo estádio - quando vão - cobrindo o único evento desportivo que lhes interessa (o futebol), ignorando por completo as outras modalidades. Isto pode dar uma visão distorcida da realidade do nosso desporto, levando o público a pensar que as outras modalidades encontram-se inactivas, o que colide com a função da CS de “contribuir para a correcta formação da opinião pública e educação cívica dos cidadãos”, Art. 5º (Funções da CS).

Será que o jornalista caboverdeano tem essa capacidade de “ler o mundo, de andar por aí com os olhos e ouvidos bem abertos, de saber o que se passa, de perceber os sinais que tocam a sociedade”, que Fidalgo fala em seu texto? Segundo o estudo sobre o jornalismo caboverdeano apresentado por Silvino Évora na Universidade Nova (Portugal), temos uma fraca habilidade de “ler o mundo”:

Silvino Évora [jornalista e investigador caboverdeano] revela que mais de 60 por cento das opiniões, objecto da sua análise, concorda que hoje existe um “jornalismo sentado” e em percentagem ainda mas elevada, opina que as “fontes governamentais dominam o jornalismo cabo-verdiano”. O seu estudo é sedimentado com declarações de jornalistas que assumem praticar “auto-censura para assegurar o emprego”. Otília Leitão – A SEMANA

Acreditamos que (alguns) dos nossos jornalistas possuem essa capacidade e que em várias ocasiões têm-na colocado em prática, mas também temos notado, principalmente nos jornais em linha, a proliferação de notícias que não são mais do que informação pré-cozinhada em press release e que dão estampa em primeira página, com assinatura do “jornalista sentado”. Outra vez, esta prática choca com dever de “comprovar a veracidade da informação” do Art. 6º da CS.
E, quando um jornalista publica e assina uma Nota de Imprensa como sua, não estará violando o Art. 16º (Indicação de fontes e segredo das fontes): “Em toda a informação ou notícia inserida nos meios de comunicação social deve ser feita a indicação da sua fonte”?


A falta de jornalismo de investigação pode ser apontado como uma das razões para “percebermos que boa parte das notícias não se tornou notícia por iniciativa do jornalista”. As fontes tornaram-se elas próprias geradoras das notícias. Outra questão é que em Cabo Verde não existem muitas empresas com capacidade para ter nos seus quadros um assessor de imprensa profissional, pelo que as notas de imprensa recebida pelos media são escritas por pessoas (na sua maioria) sem formação na área, o que torna ainda mais escandaloso o acto de copy-paste. Esta é uma das razões por que Fidalgo apela: “Se os jornais […] acabam por abdicar da sua autonomia na definição da agenda – situação com que, apesar de tudo, não deviam conformar-se tanto -, ao menos que não abdiquem dela no tratamento noticioso das matérias”.
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